Raul de Almeida publicou no Jornal Económico um artigo intitulado "A Ética Republicana", um dos temas que mais fascina "O Dolicocéfalo", por ignorar a ética, por exemplo, das monarquias nórdicas e a ética da República de Kim Jong-un, para não ir mais longe. Como diria um brasileiro, nessa coisa de ética, na prática a teoria é outra.
Pode ler o artigo completo aqui, mas transcrevo a seguir algumas passagens que me parecem relevantes:
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[...] Vem isto a propósito da profunda descredibilização da república a que vimos assistindo. Das três Repúblicas que Portugal teve após o golpe sangrento de 1910, a Primeira foi o período mais tresloucado e instável dos nossos nove séculos de história, e a Segunda foi a ditadura mais longa do século XX europeu. A Terceira República está a ser destruída pelo Partido Socialista. [...]
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[...] É da tradição política dos últimos 43 anos que o PS se assuma como dono do regime, e a esquerda como a sua inquestionável guardiã. Daqui, decorre toda uma postura facilmente identificável e materializável nos mais caricatos episódios. Se até nos podemos rir com o célebre “saia da frente ò Shô Guarda!”, já terá menos graça, pela gravidade que encerra, o também célebre “quem se mete com o PS, leva!”. A sensação de “direito superior”, ou de “legitimidade histórica”, na gestão dos assuntos do Estado acaba sempre mal. [...]
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[...] Os casos de Manuel Pinho e de Carlos César, sendo diferentes, atestam esta forma de estar. César é, acima de tudo, um homem sem vergonha; vive do Estado, empregou a família no Estado, mexe-se como ninguém nas oportunidades que o Estado proporciona, sacando o que deve e o que não deve. [...]
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[...] Manuel Pinho, sabe-se agora, receberia um ordenado chorudo do BES enquanto ministro de Sócrates e colega de Costa. É legítimo perguntarmos se Pinho recebia a maquia milionária apesar de ser ministro, por ser ministro ou para ser ministro. Já há quem defenda que era legítimo. Legítimo nunca será, poderá eventualmente vir a saber-se que anda nas tais zonas cinzentas da legalidade, não sendo crime, e isso para o PS basta.[...]
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[...] Este Governo toma posse e impõe-se com base num expediente legal; pela primeira vez em Portugal, governa quem perdeu as eleições. É legal e constitucionalmente permitido. Não é legítimo, em face da história e da tradição da Democracia Portuguesa. Para o PS chega. É exactamente este raciocínio do máximo aproveitamento dos expedientes que a lei permite, que separa a ética republicana do oportunismo socialista. Na ética republicana, não basta estar no limite da legalidade para ser eticamente aceitável. Na ética republicana, ao contrário da troupe de Costa, o poder exerce-se criteriosamente na interpretação do que é o interesse público, e não os interesses particulares das diferentes clientelas que exigem satisfação. [...]
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