Rui Ramos é um historiador cujas intervenções na imprensa e na televisão aprecio quase sempre. Colabora regularmente no Expresso e esta semana tem uma crónica que segere alguma reflexão. Escreve Rui Ramos o seguinte:
E finalmente, no prefácio da 3ª edição do "Portugal Contemporâneo", reconheço o esforço de Oliveira Martins para ser prático: "É sobretudo necessário atacar de frente os dois problemas fundamentais, o da economia pública do País e o das finanças do Estado, para de tal modo se poder travar a roda dos empréstimos e das importações excessivas, estabelecendo ao mesmo tempo o equilíbrio na balança económica do país e na balança do seu Tesouro".
Herculano escrevia em 1851, Eça em 1871 e Oliveira Martins em 1894. Podia aqui restituir os contextos, falar do começo da Regeneração, da crise de 1868-1871, do fim do fontismo. A questão, porém, não é a do enquadramento histórico dessas palavras, mas da sua aparente 'atualidade'.
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Mais abaixo, termina assim:
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Acreditar que nada muda pode justificar desalento, mas também tranquilidade. "O país está perdido!" Outra vez? Se foi sempre assim e ainda cá estamos, para quê inquietarmo-nos? Eça registou o efeito soporífico desse estado de sítio permanente: "Esta decadência tornou-se um hábito, quase um bem-estar, para muitos uma indústria". Mas só porque as palavras não mudaram, não quer dizer que as coisas sejam as mesmas. Talvez nos conviesse aprender a falar do que se passa de modo a sentirmos a sua novidade. Ficaríamos provavelmente menos sossegados.
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Estou de acordo com o cronista quando recusa o estado de alma de que estar o País perdido não vale preocupações porque sempre assim foi e ainda cá estamos. Lembremos que a monarquia do tempo de Herculano, Eça e Oliveira Martins acabou mal; deu lugar a uma república pior, cujas asneiras só foram remediadas pela ditadura agora amaldiçoada; e que esta desaguou noutra república, de opereta e manhosa, com todos os ingredientes para acabar no buraco.
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