Quem, examinando uma carta topográfica da Península espanhola, vê esta faixa de terra chamada Portugal, estreitada entre o oceano e o vulto enorme da Espanha, sem divisões nascidas da natureza do solo e fundadas na geografia física, que a separem naturalmente dela, e quando depois disto sabe que por sete séculos, com a curta interrupção de sessenta anos, os habitadores deste cantinho do mundo conservaram intacta a sua independência e individualidade nacional, prevê desde logo nesses homens, que assim souberam conservar-se livres de estranho jugo, grandes virtudes e generoso esforço, e na organização social do país uma extraordinária robustez e uma harmonia notável com as suas necessidades e índole; porque as instituições e costumes de qualquer povo são a sua fisiologia, pela qual se lhe explica principalmente o curto ou o dilatado da vida. A curiosidade então volta-se para a primeira infância desse povo, para a época em que disse a si mesmo: “Eu existo”. Na disposição daqueles tenros anos devem-se-lhe achar já os anúncios do vigor da juventude e da idade viril.
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Alexandre Herculano in “Opúsculos”
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