terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A LINHA CORTA-FOGO

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Num dos despachos diplomáticos da embaixada americana em Lisboa, agora revelados pela Wikileaks, dizia-se ao Departamento de Estado: "As denúncias de corrupção afectam virtualmente todos os partidos, mas os eleitores portugueses não parecem muito preocupados com elas" – clarividência esta, do embaixador que não sei quem era!

Corrupção há em quase todo o planeta Terra, e aquele embaixador já a devia ter visto impune nas sete partidas do mundo. Na Ásia, na África, e na América do Sul, por exemplo. Mas corrupção evidente, reconhecida, e sem consequências, na Europa, era seguramente novo para o diplomata e por isso falava dela. Não o vejo a escrever de Angola, da Birmânia, ou da Argentina a falar em tal, porque isso vem nas enciclopédias e até o contínuo do Departamento de Estado sabia.

Portugal é a plataforma de transição da corrupção impune de todos esses sítios para a Europa, para que não haja mudanças demasiado abruptas – uma espécie de junta de dilatação das pontes. É que a corrupção não pode parar de repente numa fronteira, sob pena de fazer faísca e criar risco de incêndio. Chamei-lhe junta de dilatação, mas não é bem isso: é antes uma linha corta-fogo. Serviço que a Pátria presta à Europa – a Senhora Merckel não está a entender isso! Vou escrever ao Dr. Soares a lembrar-lhe esta.
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