OS ESPECULADORES GANANCIOSOS E O BILIÃO

Mário Soares nunca teve ideia muito precisa das coisas. Tempos houve em que, Primeiro-Ministro, interrogado pela comunicação social se estava a falar de milhares ou milhões de contos, constatou-se que não sabia. Não tem importância. Também não sabe exactamente qual é a população mundial, falando às vezes de muitos biliões, quando é pouco mais de seis milésimos de um bilião. Não tem importância. Escreve semanalmente no “Diário de Notícias”, onde diz muita asneira. Também não tem importância.

Hoje, por exemplo, no meio das habituais banalidades, verbi gratia de que a política deve ser a última referência e os tecnocratas a referência abaixo do zero absoluto, fala dos famosos mercados com a mais tradicional ignorância do que são, atribuindo-lhes a qualidade de não terem rosto (não é suposto terem, digo eu) e o pecado da ganância nos ataques especulativos contra Portugal e Espanha. Ficámos sem saber se Portugal e Espanha têm o exclusivo do tropismo ganancioso dos mercados, mas isso não esclarece. Não tem importância.

Jamais terei a bênção do Céu de ter o Dr. Mário Soares a ler esta miséria que é “O Dolicocéfalo” mas, ainda assim, daqui lhe digo que mercado é um conceito abstracto que engloba tudo, ou quase tudo. Desde trapalhões como George Soros, até respeitáveis fundos de pensões que aplicam o capital recebido de trabalhadores, muitas vezes bem modestos, para poderem assegurar-lhes uma velhice decente depois da reforma.
Não são especuladores gananciosos, Dr. Soares: são instituições que se acautelam para não dar com o burro na água ao administrarem o dinheiro que não é delas, mas de gente que trabalha honestamente.

E, de passagem, pergunto ao Dr. Soares quanto, do capital que tem, investiu em obrigações do tesouro de Portugal, ou em certificados de aforro, ou nessas coisas que o ministro Teixeira dos Santos tem tanta dificuldade em vender. Provavelmente, o Dr. Soares investe em títulos mais seguros porque acha que com o risco de Portugal entrar em incumprimento, só mesmo com juros da D. Branca. É o que fazem os mercados Dr. Soares. Mas não tem importância. Só queria dizer-lhe que um bilião, em Portugal e muitos países da Europa, incluindo a França de que tanto gosta, é um milhão de milhões. A isso que chama biliões, cá por casa chamamos milhares de milhões. Mas também não tem importância.
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Nota do editor - Para que não fiquem dúvidas, o senhor que mete o dedo no nariz, a limpar o salão, é George Soros; e o que dorme beatificamente numa sessão pública é que é o Dr. Mário Soares.
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