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Se um aparelho de televisão começa a arder numa sala, a ninguém ocorrre a ideia de lançar a casa ao mar para apagar o incêndio, mesmo que tal fosse exequível. Procura-se, isso sim, combater selectivamente as chamas do aparelho e preservar o resto da habitação.
E porque falo eu da estupidez do combate ao incêndio por inundação geral? Porque, em actividades sofisticadas como a Medicina, é assim que se procede. Um cidadão tem um tumor maligno, ou uma infecção por bactéria perigosa, e o que fazem os médicos? Administram medicamentos que matam as células cancerosas, ou as bactérias, e atingem com mais ou menos gravidade outras células do próprio organismo que pretendem tratar. Ou seja, os clínicos “atiram o doente ao mar”. A quimioterapia de cancros actua sobretudo em células em rápida multiplicação e, por isso, tem alguma electividade para o cancro. Mas as células dos folículos pilosos e da mucosa digestiva, por exemplo, também têm proliferação rápida e são afectadas por isso – daí a queda do cabelo e as perturbações digestivas. São apenas dois exemplos dos efeitos secundários, embora haja outros, menos conhecidos mas muito mais graves, como a acção inibidora da medula óssea e outros órgãos onde são produzidos os glóbulos brancos e vermelhos do sangue.
Serve isto para dizer que se está em vias de registar um progresso notável no domínio da terapêutica médica de tumores e infecções: os aptâmeros. É um nome literal e figurativamente esdrúxulo. São compostos com capacidade de se ligarem apenas a certos compostos e transportar com eles medicamentos. Escolhendo aptâmeros com afinidade para compostos de células dos tumores, ou de micróbios infectantes, pode conseguir-se circunscrever a acção dos medicamentos por eles transportados a essas células. Funcionam como extintores individuais e dão um arzinho mais inteligente e menos bronco à actividade médica. Voilá!
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