sábado, 25 de junho de 2011

ESTILO DE ANTOLOGIA

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Portugal é nação desde o dia em que saiu a cruzar os mares. Até ali era o colono humilde que lavra ignoto a estreita gleba patrimonial. Desde então foi o cavaleiro da cristandade, o obreiro da civilização. Até então era apenas Portugal. Dali por diante começou a ser Europa, a ser mundo, a ser herói, a ser inteligência, a ser força, a ser luz, a ser liberdade, progresso, glória e civilização.
A história das nações principia e acaba onde elas começam e terminam a sua participação nas grandes metamorfoses da humanidade. Uma nação não são quatro linhas onduladas traçadas num mapa geográfico para a separar das outras nações; não é um povo que vive e passa sem deitar de si um brado que se escute além da pátria; não é um trono, um governo, um patriciado, uma plebe, uma sociedade que esconde o seu presente entre um passado sem memórias, e um futuro sem aspirações. Por isso a Polónia desapareceu, e as suas ressurreições são apenas a rápida tragédia do patriotismo, que luta desesperado contra a fatalidade. Por isso a Hungria não pôde desatar os vínculos onde a estreita a monarquia austríaca. Por isso a Sicília não pôde jamais consolidar a sua nacionalidade independente.
As nações são os órgãos deste grande todo, que se chama humanidade. Ora não há órgãos supérfluos, estéreis, a que não deva corresponder uma função. Quando a sua missão expira ou a sua inutilidade é manifesta, a Providência sentenceia, encarnando na espada do conquistador. É assim que Veneza, a senhora dos mares, agoniza e desaparece, quando os modernos descobrimentos tornam mesquinha e obsoleta a actividade marítima e mercantil da republica do Adriático. É assim que a aventurosa Cartago, última representante da civilização fenícia, empalidece e cai prostrada finalmente aos pés do povo vencedor, que é chamado a dilatar por mais remotas regiões a conquista e a civilização. É assim que as nações americanas caem, deixando apenas a memória dos seus nomes e o reflexo dos seus feitos.
É assim que neste portentoso turbilhão, que se chama a história da humanidade, a cidade de hoje será a necrópole do dia seguinte, o monumento de hoje ministrará as pedras ao monumento de amanhã, a coluna gentílica será o pedestal da estátua de S. Pedro, e a pirâmide de Queops dará sombra ao mameluko e ao fellah.
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Latino Coelho in "Fernão de Magalhães"
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