'MASSIVE TECHNOLOGICAL FAILURE'

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A "EDGE Foundation", organização promovida por John Brockman, é uma instituição admirável. Entre outras coisas, põe anualmente uma pergunta à multidão de intelectuais que com ela colaboram, e depois publica as respostas. Em 2009, a pergunta era: O que mudará tudo? (What will change everything?) - género de questão destinada ao sucesso, dada a heterogeneidade de cérebros consultados. São 149 as respostas. Trago aqui o resumo de uma delas, a do escritor David Bodanis, que poderei traduzir assim: “O grande acontecimento irá ser o falhanço total da tecnologia: tão grave, que vai minar a fé na ciência por uma geração, ou mais”.

O pensamento de Bodanis é facilmente sintetizável.  Toda a técnica nova traz coisas boas e más. O automóvel, por exemplo, tecnologia do princípio do Século XX e fruto da ciência dos dois séculos precedentes, permitiu o aumento da mobilidade e provocou umas tantas morte por acidentes, além de problemas de poluição.  Ainda assim, considerou-se aceitável. A energia nuclear, tecnologia de meados do Século XX baseada na ciência do princípio desse Século, é uma fonte notável de energia, com a destruição total de duas cidades no currículo, mais algumas desgraças aqui e ali. Tem contra si muita gente. A Internet, baseada no conhecimento da mecânica quântica do princípio do Século XX e na teoria da informação de meados desse Século, mudou o mundo e os seus inconvenientes, materializados na paralisação de serviços por invasão de vírus e coisas assim, têm sido controláveis até agora, embora sem possibilidade neste momento de prever coisas graves em futuro próximo ou longínquo.

No fundo, serve isto para dizer que os avanços tecnológicos registados até agora, apesar das “desgraças” que acarretam pontualmente, vão sendo tolerados. Mas tudo mudará, e vem agora a resposta de Bodanis, quando os inconvenientes do progresso tecnológico se tornarem insuportáveis; e o autor acredita que esses dias virão. Será o descrédito da ciência, por via indirecta e provavelmente injusta, mas o descrédito.

É esta uma visão original do problema, que merece reflexão. Aliás, a questão é: ciência e tecnologia mexem-se, andam e avançam sem escrutínio da humanidade – a minoria muda a vida da maioria sem a ouvir. Dá que pensar isto.  

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