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É difícil definir ética correctamente, com abrangência e acuidade, mas não interessa neste momento ser rigoroso. Vamos admitir, de forma simples, que é uma disciplina dedicada ao comportamento, com preocupação principal na qualificação e regulação dos seus valores. Está muito coxa a definição, mas serve.
Então, o homem preocupa-se com a qualidade daquilo que faz, está bom de ver? Pois preocupa e não está explicado porquê. Clifford Pickover, investigador da IBM em Nova Iorque, num texto de há uns anos, escreve sobre dois hipotéticos mundos, um sem Deus, mas em que os habitantes acreditam, e outro com Deus, em que os habitantes não acreditam. Faz considerações várias sobre respostas a perguntas de inquéritos que realizou sobre as duas alternativas e, a páginas tantas, diz assim: alguns acreditam que as pessoas se comportam mais humanamente num universo em que se acredita em Deus. É esta a matéria onde queria chegar.
Está a ética ligada à religião? Ou melhor, é a ética uma componente cultural dependente da religião? Melhor ainda, sem religião, não haveria ética? É a grande questão. Segundo Pickover, há quem pense que um sistema ético dependente da fé num Deus omnisciente e vigilante, ou vingativo, não tem pernas para andar porque, se colapsa a fé, colapsa a ética.
Não me parece ser necessária religião para a sobrevivência da ética. Embora fortemente influenciada por ela, em boa verdade é componente da cultura global. E, provavelmente, faz parte do património genético da grande maioria dos seres. Logo, existe mesmo sem fé.
A preocupação dos que, ideia sim, ideia não, falam da ética republicana será forma de tirar à religião o que temem seja o conceito generalizado: que a ética é propriedade e monopólio dela.
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