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[...] Não vale a pena dirigir a questão ao PCP e ao BE que, respectivamente, qualificam a iniciativa de "aproveitamento político" e de "truque grotesco". Não vale a pena porque os registos da Assembleia da República permitem-nos averiguar aquilo que, efectivamente, estes partidos consideram de gravidade política suficiente para justificar a pertinência de uma moção de censura. Nos últimos 10 anos (2008-2017), o PCP apresentou 6 moções de censura, uma das quais através do PEV – 2008, 2010, 2012 (Junho), 2012 (Outubro), 2013, 2014. O que as justificou? As ofensivas brutais “contra o valor dos salários” (2012), o “ataque brutal aos direitos dos trabalhadores” (2008), “a destruição da vida de tantos portugueses” (2012) e o “sentimento popular de rejeição da política de direita” (2014). Nesse mesmo período, o BE apresentou 3 moções de censura – 2008, 2011, 2012. O que as justificou? A “defesa das gerações sacrificadas” (2011), a recusa do “Tratado Orçamental” (2008) e o “direito aos salários e às pensões” (2012).
Como dizia, não vale a pena perguntar a PCP e BE porque os factos falam por si. Cortes salariais e nas pensões, troika, programa de assistência financeira e emigração não são aceitáveis e merecem moção de censura. O colapso do Estado em situações de emergência e a incapacidade do governo em agir e garantir a protecção da população não só não merecem censura como, quem o faz, é “aproveitador” e “grotesco”. O acesso ao poder explica as diferenças e o cinismo. Há, de facto, oportunistas nesta história. E fica bem claro quem são.
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Alexandre Homem Cristo in "Observador"
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