domingo, 1 de agosto de 2010

A COQUETTE

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A mulher coquette nasceu e educou-se em França, onde a civilização animou igualmente a corrupção dos costumes, e os progressos do espírito humano. Difundiu-se como uma praga pela nossa sociedade, e ei-la aí já adolescente, já matrona, já encanecida, já recatando as madeixas branqueadas sob os toucados elegantes; e todavia sem nome ainda português. É a coquette, a coquette sempre.
Se quiserdes, chamai-lhe a mulher janota. O nome não será mais nacional, mas será ao menos muito mais popular e conhecido.
A mulher coquette, ou a janota, a leoa, a pantera, que todos estes nomes lhe cabem na nomenclatura bárbara do bom tom, aspira ao ideal, ao belo, ao angélico, ao sedutor. Não vive para si, por isso não precisa do amor, nem do entusiasmo, nem do sentimento; deixa distenderem-se uma a uma todas as cordas que vibram cadenciadamente as harmonias íntimas da vida. A sua vida é toda exterior, toda quase alheia. Vive para conquistar, e não para amar; tem mais a peito esmagar com a sua vaidade, do que gozar com a sua ternura. Não ama, impõe-se como uma tirania ao amor alheio. Desde o primeiro alvorecer da juventude, sai como um conquistador a subjugar províncias estranhas, e divagando levianamente por todas elas, enleva-se na contemplação de seus extensos domínios, antes de eleger a capital onde deve exercer o seu império, ao declinar da beleza, e ao desfolhar das formosuras facticias.

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Trindade Coelho in "Tipos Nacionais"
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