Aqueles cujo habitat natural é a ditosa Pátria Lusitana acreditam que nela existem malfeitores e ocorrem crimes, fraudes, e outras práticas de lesa-próximo. Acreditam e esperam que existam, pois é tal facto natural na espécie do Homo sapiens, e assim acontece na totalidade das nações civilizadas. A violação da lei é um must social; caso contrário, é de recear não haver violação pela singela razão de não haver lei nenhuma.
Mas Portugal começa a tornar-se um case study, digno da melhor atenção dos sociólogos: é que havendo leis – aliás, há mais leis que cabeças – aparentemente, não há infracções das ditas. Perante o raquítico débito de condenações dos tribunais portugueses, começa a recear-se pela nossa saúde social: não há malfeitores nem criminosos em Portugal!...
De quando em quando, parece surgir a luzinha no fundo do túnel da interminável virtude nacional, e surgem notícias de que o Ministério Público, a Polícia Judiciária, a GNR, o Serviço de Estrangeiros, o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a ERC ou outra pessegada do género, está a investigar um alegado crime, de volumosas proporções, e complexidade notável. O Senhor Procurador Geral da República dá mesmo algumas entrevistas televisivas no passeio em frente da Procuradoria, antes de entrar na viatura distribuída a caminho do lar; ou Sua Excelência o Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça emite algumas considerações do alto do seu cargo, que não do alto da sua excelsa figura que é baixota, na soleira da porta daquele solene Tribunal.
O português afia os dentes e pensa que é o momento do País mostrar ao mundo que também cá há ilegalidade, investigação, julgamentos, e penas para delinquentes – crime e castigo, em suma. A comunicação social exulta e fica prenhe de prosa de jornalismo de investigação - no caso, informação obtida por suborno de alguns funcionários pindéricos e pilha-galinhas que, impunemente, quebram o segredo de justiça as vezes que querem.
Os processos arrastam-se, levam tempo - eternidades mesmo – e a populaça aguarda ansiosa. Lê os jornais, escreve comentários às notícias dos jornais online, e adormece angelicamente a imaginar alguns “poderosos” a ir “de cana”.
Ao fim de tempo indeterminado, como os processos não avançam, alguém manda fechar a exaustiva investigação, ou julgamento, ou outra coisa que ninguém percebe o que é, e sai o rato; ou, como dizia há dias no Diário Económico João Paulo Guerra, correntezas de ratos. O País afunda-se na maior das desilusões, pior que a do Campeonato do Mundo de Queiroz: afinal, não há crime em Portugal!
Assim se inicia novo ciclo de pessimismo nacional, do mais humilde plebeu republicano, até ao mais ilustre Senador da República - o Dr. Mário Alberto Soares escrevia hoje no Diário de Notícias: "A crise da justiça - é disso que se trata - é de muito mau augúrio, para o nosso futuro colectivo, pior do que a crise financeira e económica global".
Imaginem!... Pior que a crise financeira e económica global! Estamos feitos ao bife - julguei que não havia nada maior que a crise económica e financeira. Mas há, diz o Senador!
Mas Portugal começa a tornar-se um case study, digno da melhor atenção dos sociólogos: é que havendo leis – aliás, há mais leis que cabeças – aparentemente, não há infracções das ditas. Perante o raquítico débito de condenações dos tribunais portugueses, começa a recear-se pela nossa saúde social: não há malfeitores nem criminosos em Portugal!...
De quando em quando, parece surgir a luzinha no fundo do túnel da interminável virtude nacional, e surgem notícias de que o Ministério Público, a Polícia Judiciária, a GNR, o Serviço de Estrangeiros, o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a ERC ou outra pessegada do género, está a investigar um alegado crime, de volumosas proporções, e complexidade notável. O Senhor Procurador Geral da República dá mesmo algumas entrevistas televisivas no passeio em frente da Procuradoria, antes de entrar na viatura distribuída a caminho do lar; ou Sua Excelência o Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça emite algumas considerações do alto do seu cargo, que não do alto da sua excelsa figura que é baixota, na soleira da porta daquele solene Tribunal.
O português afia os dentes e pensa que é o momento do País mostrar ao mundo que também cá há ilegalidade, investigação, julgamentos, e penas para delinquentes – crime e castigo, em suma. A comunicação social exulta e fica prenhe de prosa de jornalismo de investigação - no caso, informação obtida por suborno de alguns funcionários pindéricos e pilha-galinhas que, impunemente, quebram o segredo de justiça as vezes que querem.
Os processos arrastam-se, levam tempo - eternidades mesmo – e a populaça aguarda ansiosa. Lê os jornais, escreve comentários às notícias dos jornais online, e adormece angelicamente a imaginar alguns “poderosos” a ir “de cana”.
Ao fim de tempo indeterminado, como os processos não avançam, alguém manda fechar a exaustiva investigação, ou julgamento, ou outra coisa que ninguém percebe o que é, e sai o rato; ou, como dizia há dias no Diário Económico João Paulo Guerra, correntezas de ratos. O País afunda-se na maior das desilusões, pior que a do Campeonato do Mundo de Queiroz: afinal, não há crime em Portugal!
Assim se inicia novo ciclo de pessimismo nacional, do mais humilde plebeu republicano, até ao mais ilustre Senador da República - o Dr. Mário Alberto Soares escrevia hoje no Diário de Notícias: "A crise da justiça - é disso que se trata - é de muito mau augúrio, para o nosso futuro colectivo, pior do que a crise financeira e económica global".
Imaginem!... Pior que a crise financeira e económica global! Estamos feitos ao bife - julguei que não havia nada maior que a crise económica e financeira. Mas há, diz o Senador!
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