segunda-feira, 9 de agosto de 2010

HISTÓRIA, ANÁLISE SOCIAL E ARTE


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No mosaísmo e no bramanismo o sacerdócio foi e é a herança de tribus ou de castas privilegiadas; no cristianismo, porém, o sacerdócio aceitou sempre homens de todas as condições e hierarquias. Desde a dignidade do metropolita até ás humildes funções do ostiário, que situação houve ou há na igreja, a que igualmente não houvessem ou não hajam de ser chamados o nobre, o burguês, o filho da plebe? E todavia o clero foi por séculos a mais poderosa aristocracia conhecida. As tradições de influência e predomínio do corpo eclesiástico perderam-se, alteraram-se acaso, porque não era a hereditariedade do berço que as mantinha? Não era e não é o corpo do clero a negação da família, e por consequência da hereditariedade? Houve nunca, especialmente durante a idade média, uma classe social mais compacta, mais distinta das outras, com interesses mais exclusivos, com uma acção colectiva mais irresistível e incessante na vida das nações? O clero que combatia nos campos, nas conspirações, e nos parlamentos contra o poder central; que não raro o fazia ceder, e que o esmagava algumas vezes, valia bem mais do que essa fidalguia hereditária dos últimos séculos, que vivia das migalhas distribuídas pela coroa, e que, sem iniciativa nem vigor, comprava com genuflexões nos paços do rei a altanaria que ostentava nas ruas e praças do povo.
Parece-nos evidente que a aristocracia, ao passo que é indestrutível como elemento social, é no concreto e em relação aos indivíduos essencialmente pessoal e por consequência móvel. Assim, na sua manifestação política, não pode perder esse carácter que lhe é essencial.
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Alexandre Herculano in "Opúsculos"
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