sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NÃO HÁ BELA SEM ASNEIRA

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Um pouco de xarope científico também tem aqui lugar, especialmente quando com interesse. Como é sabido, logo a seguir ao nascimento, o intestino é colonizado por mais de mil espécies de bactérias, num número total de germes da ordem de muitos biliões, bastante superior ao número das nossas próprias células. Tal população é normalmente aliada, beneficiando da presença num meio alimentar muito rico para ela por um lado, e melhorando a digestão e defendendo-nos de bactérias patogénicas por outro. Mas também pode tornar-se prejudicial e tem sido ligada ao aparecimento de doenças auto-imunes, afecções em que os mecanismos naturais de defesa do organismo se voltam de forma estúpida contra o próprio organismo. Por exemplo, atribui-se a doença inflamatória crónica do intestino a essa população.
Hsin-Jung Wu e outros investigadores publicaram recentemente um artigo na revista “Immunity” onde descrevem que ratinhos geneticamente manipulados para desenvolverem artrite auto-imune são criados em condições de assépsia que impede a colonização do intestino por bactérias: todas - boas e más. Pois esses ratinhos só têm a artrite mais tarde na vida e com pouca gravidade. Tal é atribuído à não proliferação de células que colaboram na auto-imunidade, incluindo na doença crónica inflamatória do intestino, os linfocitos TH17.
Não há bela sem senão e a flora intestinal é bela, mas com este senão. É claro que o fenómeno é resultado do processo evolutivo do homem estar incompleto. A acção das bactérias indutoras da doença intestinal encurta a vida do hospedeiro e, em resultado disso, delas próprias - individualmente e como população. É dupla asneira biológica.
Quando a natureza tiver “expurgado” todo o ser susceptível à doença inflamatória por selecção natural, beneficia o homem como espécie e as bactérias entéricas. Muito complicado e, dito desta maneira, tem algum sabor a eugenia; mas é mesmo assim, prontes.
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