A voz da democracia
A Legião Estrangeira tinha, antes da I Guerra Mundial, um slogan diabólico: "Marchar ou morrer."
«Quase um século depois, Manuel Alegre soltou o seu grito libertário: "Esta é uma luta de vida ou de morte para a democracia." As barricadas começam a ser erguidas. Alegre acha que, se for eleito, haverá democracia e que se o escolhido for Cavaco haverá autocracia. Ou ditadura, sabe-se lá, porque Alegre nunca poupou nas palavras. Alegre
transformou a democracia numa escolha pessoal. Aqui ao lado, na Tunísia, Ben Ali pensava o mesmo. Julgar-se-ia que, nestes tempos de crise financeira, o grande perigo para a democracia estivesse na dependência de crédito externo para não nos dissolvermos no ácido da nossa dívida. Ou que o perigo estava numa elite política que, há anos, fez do Estado um condomínio privado para os amigos. Imaginar-se-ia que o perigo para a democracia estava num País que importa metade do que come. Ou que o perigo estaria nos milhares de licenciados que vão para as ruas do desemprego. Pensar-se-ia que o perigo para a democracia fosse Sócrates estar a negociar a venda de dívida sem dizer nada à oposição ou ao PR. Compreende-se o delírio da voz da democracia: nunca deixou de viver do passado. Manuel Alegre marcha para que a sua candidatura não morra na praia. É defensável. Cumpriu os objectivos para José Sócrates: calou durante uns preciosos meses o BE. Mas, é claro, Sócrates não quer Alegre em Belém. Prefere um alvo que possa servir como desculpa para os seus falhanços. Não há drama. Alegre vive na ilusão. Deixemo-lo viver assim.»
19Janeiro2011
Fernando Sobral in “Jornal de Negócios”
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