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Por todo o universo a religião desaparece das almas; e apenas lá fica essa vaga religiosidade, feita em parte do abalo que deu ao nosso coração uma tão longa sujeição ao sobrenatural, em parte do confuso terror que impera neste grande universo que nos cerca, tão simples e tão mal compreendido. Neste estado negativo, de passividade na dúvida, não se gera facilmente um impulso de acção forte. Um jehad no Islão é tão impraticável – como uma cruzada no cristianismo. Pedro Eremita hoje iria acabar na polícia correccional, por perturbador da ordem pública e das relações internacionais; e os fanáticos que ainda hoje, às portas das mesquitas do Cairo, bradam contra o turista estrangeiro as injúrias aconselhadas pela boa doutrina são imediatamente levados para a enxovia por fazerem alarido nas ruas!
Maomet, nas suas mesquitas, Cristo, nas nossas capelas, vão singularmente envelhecendo; o nosso messias vai-se cobrindo pouco a pouco do pó que levanta o forte arado da razão, lavrando um mundo novo; e o profeta do Islão, tendo perdido a força da sua unidade, subdividido em mil profetas menores que presidem a mil seitas diferentes, mal pode resistir à lenta avançada da civilização ocidental. E com Cristo e Maomet, que eram os príncipes militantes e vivos das suas religiões, desaparece o que nessas religiões havia de vivo e de militante. Resta Deus, resta Alá. Sublimes abstracções, incapazes de inspirar amor ou heroísmo.
O que mais faz amar a divindade é a quantidade de humanidade que ela encerra. Clóvis batia-se por Jesus, que tinha um peito de homem como o dele, e nesse peito humano cinco chagas abertas; Soliman morreria feliz por Maomet, que era como ele um guerreiro e, como ele, amava a beleza.
Mas quem se vai bater por Deus, por Alá, essas entidades tão vastas que enchem todo o céu, e tão pequenas que não bastam a satisfazer o nosso coração, que nos são subalternas, porque são feitas à nossa imagem, e são no fundo a nossa própria alma alargada até ao infinito com todas as suas fraquezas!
Maomet, nas suas mesquitas, Cristo, nas nossas capelas, vão singularmente envelhecendo; o nosso messias vai-se cobrindo pouco a pouco do pó que levanta o forte arado da razão, lavrando um mundo novo; e o profeta do Islão, tendo perdido a força da sua unidade, subdividido em mil profetas menores que presidem a mil seitas diferentes, mal pode resistir à lenta avançada da civilização ocidental. E com Cristo e Maomet, que eram os príncipes militantes e vivos das suas religiões, desaparece o que nessas religiões havia de vivo e de militante. Resta Deus, resta Alá. Sublimes abstracções, incapazes de inspirar amor ou heroísmo.
O que mais faz amar a divindade é a quantidade de humanidade que ela encerra. Clóvis batia-se por Jesus, que tinha um peito de homem como o dele, e nesse peito humano cinco chagas abertas; Soliman morreria feliz por Maomet, que era como ele um guerreiro e, como ele, amava a beleza.
Mas quem se vai bater por Deus, por Alá, essas entidades tão vastas que enchem todo o céu, e tão pequenas que não bastam a satisfazer o nosso coração, que nos são subalternas, porque são feitas à nossa imagem, e são no fundo a nossa própria alma alargada até ao infinito com todas as suas fraquezas!
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Nota - A História terá tirado alguma razão ao pensamento de Eça, mas a prosa é sublime à luz do pensamento da época.
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