terça-feira, 30 de novembro de 2010

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA



Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna, com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo.

Eça de Queirós
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BRANCA E LEVE BRANCA E FRIA

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Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.
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PINTO DE SOUSA E CARA DE PAU

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Segundo o “Diário de Notícias”, o bem amado líder de Portugal negou hoje que o Governo pretenda flexibilizar os despedimentos, contrapondo que a intenção do diálogo com os parceiros sociais é aplicar de forma "exequível" e "pragmática" a reforma do Código Laboral de 2008.

Leia-se: o Governo vai flexibilizar os despedimentos, não vai dialogar com os parceiros sociais nem com ninguém, e aplicará, de forma obediente, seja pragmática ou não, o que Bruxelas disser para aplicar.

Confrontado com a sugestão de Bruxelas de que Portugal deverá baixar os custos dos despedimentos, disse que o Governo português não precisa de sugestões de ninguém. É d'ómem! O Governo português não precisa de sugestões...: só acata ordens – e a Senhora Merckel não deu a ordem (so far...).

Não há outro “cara de pau” assim na galáxia, garanto eu.
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PENCHANT FOR PARTYING HARD

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Nos documentos revelados pela WikiLeaks, Berlusconi é descrito como física e politicamente fraco, amigo de noitadas frequentes, e com gosto por farras de arromba. A fotografia deve ter sido feita depois de uma delas.
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NOITES DE INSÓNIA

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O beduíno e sedutor, que só pode subir 35 degraus e não resiste a mais de oito horas de avião, com cara de noite mal (ou bem?) passada.
Quando tive o azar de ir à Líbia, no navio em que viajava foi necessário tirar toda a garrafa com álcool da vista dos líbios para entrar no porto de Tripoli. Ah ganda beduíno, que só bebe leite de camela! 
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BRASIL A FERRO E FOGO

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Começa a limpesa para a Copa do Mundo de 2014
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FRANCISCO LOPES O PENSADOR

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Não conheço Francisco Lopes de lado nenhum. Nem da tropa. Mas acho Francisco Lopes uma ternura. Estou desconfiado que quem me lê estará a perguntar quem é Francisco Lopes! Em caso afirmativo, não há desculpa nem pachorra. Francisco Lopes é o candidato à Presidência da República que declarou hoje: “Cada voto na minha candidatura contribui para que Cavaco Silva não seja eleito”. É profunda esta! Eu diria mais: cada voto em Defensor de Moura, com o seu 1% nas sondagens, também contribui. O mesmo para Alegre e Nobre! Já alguém tinha pensado nisto? Está na cara que não. E mais: se todos votarem em Francisco Lopes, ele é eleito por unanimidade; e se só a maioria votar em Francisco Lopes, ele é eleito por maioria.

Mas onde esteve este pensador, político, politólogo, filósofo e militante do PêQuêPê até agora? Dizem-me que é o braço direito de Jerónimo de Sousa o que explica tudo: Jerónimo só brilha como brilha, graças à orientação espiritual deste guru.

Não queria falar de mais nada, para não diluir o brilho da frase lapidar de Francisco Lopes, mas há outra coisa que merece reflexão e é um aviso. Referindo-se à Irlanda, declarou: A Alemanha não está a ajudar, mas a “pegar um bocado na corda para que a Irlanda se enforque mais depressa”. Aí está!... A Alemanha não está a pegar na corda toda mas, ainda assim, está a pegar um bocado na corda. Nunca poderemos saber se com Portugal, caso a Alemanha venha a ser chamada para pegar na corda, a Alemanha pega só um bocado na corda, ou pega na corda toda. Dependerá do calibre da corda, digo eu, e da dimensão da mão do boche encarregado pela Senhora Merckel de pegar na corda. Porque não há dúvidas em ninguém que com a besta que nos governa, a forca é mais que certa.
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A FLORISTA

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JORNALISTA É SARNA

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José Sócrates, a pavonear-se na Líbia, declarou em alto e bom som, urbi et orbi, que os jornalistas portugueses estão obcecados com a economia. Vejam lá!...

Num País com casamento entre pessoas do mesmo sexo; em que a adopção de crianças por casais homossexuais está por dias; em que o divórcio se pode obter por e-mail, ou coisa parecida; em que a interrupção voluntária da gravidez, vulgo aborto, se faz sem qualquer encargo para a abortada, ao contrário do infeliz que tem de ser operado à hérnia inguinal; em que se produz escândalo porque alguns jovens não foram pronta e gratuitamente atendidos num centro de saúde a fim de receberem a pílula do dia seguinte, eufemisticamente chamada “contracepção de urgência; e em que as desigualdades sociais atingem níveis de competição com o Zimbabwe, vêm uns peraltas molestar o Primeiro-Ministro, a passear alegremente por terras do Magrebe, só porque ouviram dizer que na Irlanda, depois da chegada do FMI, vai subir a idade da reforma, as pensões serão reduzidas 4%, e os admitidos na função pública têm 10% de redução nos vencimentos, embora não se saiba porque seriam admitidos, dado que 25.000 funcionários actuais vão para a rua.

Jornalistas são papagaios horrorosos, estou de acordo. Nunca me cansei de o dizer e escrever. Mas tudo tem um limite! Felizmente, Sócrates regressa hoje a Portugal e vai explicar: é obrigatório que a Nação fique a saber tudo sobre quanto lhe deve (a ele). E sobretudo quanto deve ele aos investidores internacionais.
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

OS GRANDES VELEIROS

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"Santa Maria Manuela"
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O lugre de quatro mastros “Santa Maria Manuela” foi construído nos estaleiros da Companhia União Fabril no ano de 1937 com destino à pesca do bacalhau. Fez parte da famosa “Portuguese White Fleet”, juntamente com o “Creoula”, seu irmão gémeo agora ao serviço da Marinha de Guerra, e o “Argus”. Iniciou a vida da pesca armado pela Empresa de Pesca de Viana, fazendo dezenas de campanhas na Terra Nova e Gronelândia até 1962, ano em que foi vendido a um armador de Aveiro. Sofreu entretanto muitas transformações para ser modernizado, e até deixou de ser veleiro. Mas em 1993 foi considerado obsoleto e abatido. Comprado por uma fundação com o propósito de o restaurar, passou várias vicissitudes por falta de meios, até ser comprado pela firma armadora de Ílhavo “Pascoal & Filhos SA”, que o reconstruiu e devolveu à forma original. Actualmente realiza viagens de turismo.
Faz parte das minhas recordações de infância em Viana do Castelo, em cuja doca o via e imaginava as extraordinárias campanhas da pesca à linha do bacalhau, num veleiro de filme de Hollywood.
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FUGIR DO FRIO EM ESTOCOLMO

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Hoje à tarde
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O TIGRE INDONÉSIO

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Na sequência de um post publicado hoje às 22H27, sobre a hegemonia mundial e a possibilidade de esta se transferir para a Ásia neste Século, uma referência à Indonésia, que tem passado um pouco ao lado dos olhos do mundo.

Relativamente poupada pela crise financeira global, a Indonésia cresceu 6,1% em 2010 e crescerá 6.3% no próximo ano, de acordo com as previsões, um dos crescimentos mais rápidos da Ásia e do mundo. E, mais importante, se se considerar o crescimento do PIB per capita, a subida será de 20% nos próximos dois anos. Adicionalmente, a Indonésia tem a segunda melhor performance da Ásia no que respeita ao mercado bolsista.

Mais um reforço para a selecção asiática. Às quatro letras do acrónimo BRIC vai ser necessário juntar mais um I – IBRIC, BIRIC, BRIIC, ou BRICI?
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NEM TUDO SÃO ROSAS

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Barcelona 5-0 Real Madrid
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FRUTOS

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A VOLATILIDADE DA HEGEMONIA MUNDIAL

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A qualidade de país hegemónico é fugaz em perspectiva telúrica, como a História demonstra. Curioso é o facto de cada era não se aperceber disso ou, pelo menos, de os comportamentos de cada época não traduzirem a percepção de tal facto. Há pouco mais de 20 anos, o Presidente Bush (pai), a seguir à derrocada do muro de Berlim e ao fim da União Soviética em adiantado estado de putrefacção, proclamava do alto do púlpito da Assembleia Geral da Nações Unidas o início da nova ordem internacional, sob a tutela dos Estados Unidos da América. Vinte anos depois, a nova ordem mundial não se parece nada com o que Bush antecipava.

A América é ainda a mais poderosa potência militar, mas tal não basta nos tempos que correm: veja-se o problema do Afeganistão, por exemplo. O poder militar só já não impõe qualquer posição no mundo. A decantada armada inglesa que subjugava o império em que o Sol nunca se punha ficaria hoje bem longe de o conseguir – só império de vinte e quatro horas à luz da vela de sebo e era um pau. A ordem mundial estabelecida pela política da canhoneira acabou.

As potências militares têm de impor-se por outras vias, em que a ética, a produção intelectual e sobretudo a economia, são pedras de toque. Sobretudo a economia. Não se percebe, contudo, se ainda vão a tempo perante o fenómeno das potências emergentes, Rússia, Brasil, China e Índia: a capacidade económica faz destas pólos de poder crescente, três dos quais na Ásia, que ameaçam a chamada “supremacia ocidental”. Tempo virá em que os netos dos nossos netos ficarão de óstio bucal escancarado ao ouvir que os Estados Unidos da América já foram o centro do mundo, de onde vinha a investigação científica, a inovação tecnológica, o grande jornalismo, o cinema, a exploração do espaço sideral, a música popular e não só, e muitas outras formas de cultura, incluindo a moda “de Paris”. Tão admirados como agora ficamos a ouvir coisa parecida do Egipto ou da Grécia.

O mundo não pára, os homens não param, as culturas não param, as civilizações não param, e a hegemonia também não tem sossego.
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INCOMPARÁVEL ITÁLIA

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WIKILEAKS: KADAFI - BEDUÍNO E SEDUTOR

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A WikiLeaks”, organização dedicada a divulgar segredos oficiais, por meios não completamente esclarecidos teve acesso a 250.000  telegramas diplomáticos trocados entre embaixadas dos Estados Unidos e o Departamento de Estado. Tais documentos, agora revelados pela imprensa internacional, têm informação da mais variada ordem, desde a colaboração da Coreia do Norte com o Irão, fornecendo-lhe tecnologia para a construção de mísseis de longo alcance, até ridículos pormenores de boudoir.
Para dar ideia da matéria, reproduzo a seguir excertos do telegrama enviado para os EU pelo embaixador americano em Tripoli, antes da ida de Kadafi à Assembleia Geral da Nações Unidas, em Setembro de 2009. É um exemplo de matéria de lana-caprina que, pelo ridículo que contém, já devia ter sido publicada há mais tempo, para nossa diversão.
(Os asteriscos substituem nomes, tal como no original, por razões óbvias)

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Cabeçalho do telegrama da Embaixada amerivcana na Líbia
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Quando ***** começou a procurar instalações para alojar Kadafi,  informou-nos que o líder tem de ficar no primeiro andar do edifício que seja arrendado para o efeito. (*****, por outro lado, disse a funcionários de Washington que Kadafi não pode subir mais de 35 degraus). ***** referiu ter sido esta necessidade a razão porque a residência em Nova Jersey foi o local de escolha para a instalação, em vez da residência da PermRep Líbia em Nova Iorque. ***** procurou também local com espaço para a tenda beduína de Kadafi, seu local tradicional para receber visitas, uma vez que constitui maneira não verbal de fazer ver que é um homem próximo das suas raízes culturais.
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O facto de Kadafi não gostar de voos longos e ter medo de voar sobre água, também causou dores de cabeça aos colaboradores. Quando se discutiu o plano da viagem, ***** explicou que a delegação líbia iria chegar vinda de Portugal, dado que Kadafi “não pode voar mais de oito horas” e necessita de pernoitar na Europa antes de continuar a viagem para Nova Iorque. Presumivelmente pela mesma razão, Kadafi pediu uma paragem na Terra Nova, na viagem da Venezuela para a Líbia em 29 de Setembro. [Nota: O Governo do Canadá confirmou recentemente que a delegação líbia cancelou os planos de parar na Terra Nova. Fim de nota]

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Finalmente, Kadafi depende grandemente da sua antiga enfermeira ucraniana, Galyna Kolotnytska, descrita como uma “loura sensual”. Do tão falado grupo de quatro enfermeiras ucranianas que cuidam da saúde e bem estar do líder, ***** ***** ***** salientou a muitas embaixadas que Kadafi não pode viajar sem Kolotnytska, pois só ela “conhece a sua rotina”. Quando o visto de Kolotnytska, por ter sido pedido tarde, só chegou no dia da partida de Kadafi para os Estados Unidos, o Governo da Líbia enviou um jacto privado para a levar a Portugal local da paragem de repouso do líder. Alguns contactos de embaixadas dizem que Kadafi e Kolotnytska, de 38 anos, têm uma relação romântica. Embora não comentando tais rumores, um funcionário político ucraniano confirmou que as enfermeiras “vão para todo o lado com o líder”.

Uma maravilha tudo isto! Um parolo daqueles, ditador há 40 anos, com pretensões de beduíno, não pode subir mais de 35 degraus, voar mais de oito horas, ou prescindir da loura ucraniana sensual, a única que conhece a sua rotina! Estamos todos a ver a rotina. Grande estupor!...
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domingo, 28 de novembro de 2010

VENDE-SE O LENIN EM SALDO

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O governo Húngaro vende relíquias do tempo do falecido comunismo para realizar receitas: os tempos estão difíceis...
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JOGOS ASIÁTICOS

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Cena da cerimónia de encerramento
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O HOMEM QUE VENCEU NOS MERCADOS

Não gosto de incriminar ninguém pelo “que consta” pois, muitas vezes, o “que consta” é inventado para prejudicar com má fé. E o “que consta” corre mais depressa que a verdade. Mas há factos confirmados que, não constituindo por si motivo para incriminar, cheiram mal, prontes.


Hoje lê-se no “Diário de Notícias”:

[...] Os inspectores da Unidade Nacional contra a Corrupção também apreenderam um vasto conjunto de obras de arte que estavam na casa de João Rendeiro, ex-presidente do banco (BPP), e no Centro de Arte Contemporânea da Fundação Ellipse, uma instituição sediada em Alcoitão, Cascais, e ligada ao BPP. Fonte próxima da investigação confirmou ao DN a apreensão, acrescentando que o valor das obras de arte apreendidas ronda os 50 milhões de euros. [...]

[...] Ao que o DN apurou, os investigadores suspeitam, por um lado, que João Rendeiro tenha utilizado ilegitimamente dinheiro do banco para adquirir obras de arte e, por outro, investigam as relações comerciais entre a Fundação Ellipse e o BPP. Até que ponto, segundo uma fonte ligada à investigação, a primeira não era um veículo de branqueamento de capitais é uma das suspeitas em causa. [...]

[...] De facto, segundo notícia recente do Correio da Manhã, a casa onde João Rendeiro e a mulher, mais uma empregada filipina, habitam está em nome de uma empresa offshore: a Corbes Group LLC, constituída nas Ilhas Virgens Britânicas, mas, actualmente, com sede no Delaware, o paraíso fiscal norte-americano. [...]

Em boa verdade, tudo isto é complicado e não cheira muito bem. Que acha o leitor? Ao ler isto, não diz nada, mas acho que alguma suspeita lhe atravessa o encéfalo. Não?!!!... O meu atravessa.
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NU

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O TRIBUNO OBAMA

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Os americanos adoram fazer listas dos “mais” de qualquer coisa do ano. Hoje li a lista dos 100 pensadores mais influentes em 2010, incluindo americanos e não americanos. À cabeça vêm, ex-aequo, Bill Gates da Microsoft e Warren Buffett, investidor e um dos mais ricos do mundo, tal como Gates. Estão no topo pela sua cruzada a favor da filantropia de que são praticantes convictos. O número 100 é Ian Buruma, escritor de nova Iorque, pela luta na defesa do liberalismo.


Naturalmente que Obama não podia estar ausente - ocupa a terceira posição, a seguir à dupla Dominique Strauss-Kahn, Director do FMI, e Robert Zoellick, Presidente do Banco Mundial.

Obama, viu a a imagem ensombrada por uma economia em dificuldades, pelo problema do Afeganistão, por um fiasco eleitoral e pelo desastre do derrame de petróleo no Golfo do México. E, embora com planos para resolver problemas como o da imigração e o da maneira como a América desbarata energia, a verdade é que tais planos ainda não saíram do papel. Adicionalmente, o esforço na promoção da paz no Médio Oriente tem sido um flop, e não consegue calar os republicanos mais conservadores que o acusam de estar a instalar no País um socialismo "à europeia".

Mas, mesmo sendo severamente julgado pelos compatriotas, Obama será ainda o líder mais popular do mundo, dizem os responsáveis pela lista em apreço. Enfrenta com determinação a entrada no período pós-superpotência única que a América viveu a seguir ao fim da guerra-fria, procura que o País se imponha pela força das ideias, estabeleceu relações de solidariedade com as potências emergentes ainda não representadas satisfatoriamente nas organizações que governam o mundo, reforçou os laços de amizade com as democracias da Ásia, e proclamou na Assembleia Geral das Nações Unidas, urbi et orbi, que combaterá os que sufocam ideias e será a voz dos que não a têm.

Muito idealismo, e  retórica ainda mais, é verdade. Obama é um dos mais brilhantes e convincentes oradores que tenho ouvido, e já ouvi muitos – até de mais. Mas está na fase inicial da empresa a que meteu ombros e merece o benefício “espera para ver”. Quando chegar ao fim, revê-se a matéria.
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MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO EM DISCURSO DIRECTO

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O grande obstáculo à governabilidade é o primeiro-ministro. Seria vantajoso que o PS produzisse outra solução: não teríamos eleições antecipadas.



Há muitos sinais de perturbação dentro do PS e do grupo parlamentar que assistem a um delapidar do património ideológico do partido. Acredito que os dirigentes do PS não serão indiferentes a isto.


Fui uma das pessoas que, à direita, defendeu Sócrates quando assumiu funções porque tinha uma ideia interessante sobre o que deve ser Portugal.


Tinha uma visão que se revelou fantasiosa - um País moderno com Magalhães para todos e todos os meninos a falarem inglês. Teve um arranque interessante com uma ideia de País que quebrava com a nossa falta de ambição. Tem ‘punch' político, sabe muito pouco, mas absorve bem toda a informação.


Abriu muitas frentes, iniciou algumas reformas e foi sendo devorado pelo aparelho do PS. Liderou o Governo que mais pessoas impreparadas colocou na máquina do Estado. Deixou-se condicionar. Quando chegou a crise cometeu o erro de não a tratar como um desígnio nacional e preferiu aparecer como um vendedor de escovas - com soluções para tudo.


Sócrates parece uma pessoa perturbada, agarrado a objectivos que já não se podem alcançar. E em negação. Convence-se de que o que diz é verdade. E depois temos o Estado Social que acaba por cair por terra não pelos constrangimentos orçamentais, mas porque não houve trabalho de casa. A única excepção foi Correia de Campos na Saúde, que foi um excelente ministro.


(Sócrates não é aconselhável para o País) E temo pelo que nos espera, vamos ver epifenómenos que são novos.


Uma grande frustração, indiferença com a política, uma crise com fracturas profundas e muito ódio para com os políticos. A classe média criou falsas expectativas e vai haver um sentimento de revolta por ter sido enganada. Admito que haja contestação social inorgânica.


Se tivermos eleições antecipadas o PSD está muito bem posicionado para as ganhar e ele (Passos Coelho) está bem posicionado para ser primeiro-ministro. Mas o ideal era não termos eleições e o PS alargar a base de apoio do Governo, no Parlamento, com outro primeiro-ministro.


(Se houver eleições antecipadas) O que vão defender Passos Coelho e Paulo Portas aos portugueses? Vão explicar quantos furos mais precisamos de apertar? Que conversa se pode ter com um eleitorado num momento crispado? É indecoroso termos eleições.
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In "Diário Económico"
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sábado, 27 de novembro de 2010

HITCHENS E O ATEÍSMO INTELIGENTE


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Christopher Hitchens é um brilhante jornalista, membro activo da corrente neo-ateísta e autor do livro “Deus Não É Grande”. Conheço alguns escritos dele, e procurando na Net um desses textos, encontrei o artigo em que comenta a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama, coisa que vale a pena ler. Para dar ideia do estilo de Hitchens, transcrevo o início. Começa assim:
Alfred Nobel tem uma estranha coisa em comum com Mark Twain, Ernest Hemingway e Marcus Gravey. Teve oportunidade de ler nos jornais a notícia da sua morte. Ficou tão deprimido com a ênfase dos obituários no trabalho pioneiro sobre a dinamite, que resolveu de imediato fazer o upgrade da notícia, criando um prémio para a paz internacional.

Mas, se prematura é a palavra para a revisão das notícias do seu próprio passamento, é também a mais polida para a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao nosso 44º Presidente no primeiro ano do seu primeiro mandato.

Apesar de em fase adiantada na evolução de doença cancerosa, Hitchens participou ontem em Toronto num debate de 90 minutos sobre contribuição/prejuízo da religião versus sociedade, com Tony Blair, convertido não há muito tempo ao catolicismo. Blair foi um flop, ficando-se pela referência às obras religiosas de carácter humanitário, omitindo a quantidade de guerras e conflitos com motivação religiosa.

Hitchens foi brilhante, o que não significa necessariamente ter razão. Mas disse uma coisa que marcou o debate quanto a mim, qual foi esta: "Quando se aceita um criador e um plano, isso faz de nós protagonistas duma experimentação cruel".

Vale a pena reflectir sobre isto, mais ainda depois de outra afirmação citada neste blog há dias: "Se tivesse sido eu a criar o mundo, tinha feito as coisas de modo a que as espécies pudessem sobreviver sem se torturarem, ou destruírem mutuamente". Fica o tema.
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COWEN - O SÓCRATES DA IRLANDA

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A Irlanda está em estado de choque: depois de séculos de pobreza rural e emigração, viveu o aparente progresso económico que lhe deu o estatuto de “Tigre Celta”, com crescimentos anuais até aos 11% e bem estar social, e conheceu a imigração como nenhum outro país em tão curto espaço de tempo – era até há meses uma das mais ecuménicas sociedades da Europa. Quando julgava ter-se definitivamente libertado do fado da penúria, eis que constata estar tal progresso assente em terreno pantanoso, obra de um bando de especuladores e bandalhos do capital.
Hoje, ao ver esta fotografia, compreendi melhor que ninguém o que sente este pai – há mais de um ano que este blog se revolta com a conduta dos responsáveis do nosso País, conduzindo-o à situação magistralmente sintetizada no cartaz (Cowen - o meu filho tem 12 anos - endividaste-o e aos filhos dele que ainda não nasceram).
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SIRENA RECORDER QUARTET

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O Sirena Recorder Quartet é dinamarquês e faz muito o meu género. Haverá imensa gente que não gosta, está na cara. Os que gostam podem ter alguma informação sobre elas clicando aqui.

A BARBA DE ABRAHAM LINCOLN



Em Junho de 1860,
ainda sem barba.

Mais tarde, mas ainda em
1860, começa a barba.




















Em 1861, a barba com que todos
o conhecem estava pronta.

ESTEVE PRETO

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O olhar suplicante para o alto e o dedo acusador
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NÃO, NÃO..., SIM

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A pressão da UE é especulação, mas a Irlanda dizia na Quinta-Feira que não iria pedir ajuda ao FMI/UE, e na Segunda-Feira a seguir pediu.  Quem acredita ainda em conversa de políticos?
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É O TEMPO DELE

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Vem aí o frio!
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A MODEST PROPOSAL

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Paul Krugman conta no “New York Times” uma anedota do início do ano passado e depois comenta. A anedota era assim: Qual a diferença entre a Islândia (Iceland em inglês) e a Irlanda (Ireland). A resposta certa era: uma letra e cerca de seis meses.

Na altura, parecia uma história de mau gosto, dada a situação aflitiva da Islândia. Hoje, menos de dois anos depois, a Irlanda está muito pior que a Islândia. E porquê?

Segundo Krugman, porque a Islândia se demarcou do problema entre os bancos gananciosos - envolvidos em negócios mirabolantes de concessão de créditos notoriamente ruinosos - e os seus financiadores, também eles gente de princípios pouco cristalinos. Afinal, era um problema de privados com que o erário público tinha pouco ou nada a ver.

Na Irlanda, que tinha um défice público pequeno, o governo decidiu salvar os bancos privados, e indirectamente os investidores insaciáveis e pouco escrupulosos, também privados, com o dinheiro público dos contribuintes. O défice disparou e a austeridade tornou-se insustentável para os irlandeses, que além de fiscal e laboralmente depenados, viram a economia a encolher e o desemprego subir em ascensão meteórica.

O artigo de Krugman intitula-se “Comer os Irlandeses” e inspira-se num ensaio de 1729 ("A Modest Proposal") de Swift, autor da história “As Viagens de Gulliver”, em que, perante a pobreza da Irlanda, Swift propunha a venda de crianças para alimentação. E justificava: é a alimentação própria para os senhores da terra que já comeram os pais. Na verdade, os banqueiros irlandeses já comeram os pais e preparam-se para comer os filhos na próxima geração…, pelo menos!

São estes trastes que permitem à esquerda folclórica e sem ponta por onde pegar o arremesso de flechas envenenadas. Infelizmente com razão.
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SEIS MESES PARA MOSTRAR O QUE VALE...

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Seis meses!...
Eh, eh, eh...
O Jesus, que está ao lado, tem menos tempo!
Eh, eh, eh...
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BAD NEWS FROM IRELAND

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O Fundo da UE e o FMI tentam convencer os credores da Irlanda a colaborar na recuperação das finanças do País - leia-se suportar parte do prejuízo. E acrescenta a notícia: se não houver acordo, estudar-se-á a forma legal de os obrigar a colaborar. Significa isto que os juros dos países em desiquilíbrio, como Portugal, têm tendência para subir.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FENCE POST TURTLE

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Alex Haley, o autor do livro “Raízes”, tem no gabinete a fotografia de uma tartaruga em cima dum poste. Interrogado porque era aquilo, respondeu: sempre que escrevo qualquer coisa importante, ou leio o texto escrito por mim que acho bom e começo a sentir orgulho, olho para a tartaruga e penso que ela não deve ter chegado lá sozinha.

Boa razão para agradecer a alguém no dia de Acção de Graças.

Isto lê-se no "Washington Post". E há comentários. O segundo conta a propósito que um médico conversava com um velho rancheiro do Texas enquanto lhe fazia o penso numa ferida e, falando de Obama, o rancheiro disse ser este “uma tartaruga do poste”. Como o médico não conhecesse a expressão, ele explicou: qual tartaruga em cima do poste, Obama não chegou lá por ele, não sabe que fazer enquanto está lá, e as pessoas perguntam quem terá sido o estúpido que o pôs ali em cima.

Ofende um bocado, mas tem piada.
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O MOTIM

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A acção passou-se em 10 de Novembro, o local é a entrada da Millbank Tower de Londres, onde está instalada a sede do Partido Conservador Britânico, e o argumento é a revolta dos estudantes contra o novo regime de pagamento dos cursos. Not bad!...
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AS GRANDES OBRAS DA HUMANIDADE

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Tecto da Capela Sistina
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O SAPO

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Este é o sapo que muitos têm de engolir, incluindo candidatos à Presidência da República
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A URBANIZAÇÃO DO ARDIPITHECUS RAMIDIS

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Há uma boutade do responsável pelo departamento de patentes dos Estados Unidos, nos finais da II Guerra, há 65 anos, mais ou menos assim: “Tudo que podia ser inventado já foi inventado”. Jericada com piada porque zurrada por aquele funcionário e não outro.

Mas é preciso dizer que, com inesperada frequência, quem é inculto e lê textos cultos, como eu, se surpreende com o achado de dissertações sobre temas alegadamente novos na boca – pena neste caso – de gente velha. Hoje tropecei neste excerto:

À medida que a indústria e as artes se estendem e florescem, o cultivador desprezado, carregado de impostos necessários à manutenção do luxo, e condenado a passar a vida entre o trabalho e a fome, abandona o campo para ir procurar na cidade o pão que devia levar para lá. Quanto mais as capitais impressionam de admiração os olhos estúpidos do povo, tanto mais seria preciso lastimar o abandono dos campos, as terras incultas e as estradas cheias de cidadãos desgraçados transformados em mendigos ou ladrões, e destinados um dia a acabar a sua miséria pelos caminhos ou sobre um monte de esterco. É assim que o Estado se enriquece por um lado, e se enfraquece e se despovoa, por outro, e que as mais poderosas monarquias, após muitos trabalhos para se tornarem opulentas e desertas, acabam por se tornar a presa de nações pobres que sucumbem à funesta tentação de as invadir, que  enfraquecem por sua vez, até que elas mesmas sejam invadidas e destruídas por outras.

Na minha incultura praticante, fiquei duplamente abismado perante o brilho do texto e a antiguidade do problema em apreço: o autor é Jean-Jacques Rousseau e por isso o trecho é brilhante; mas o livro é o “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade”, e a data é 1754! Há 256 anos!!

Não estará tudo inventado, mas começo a acreditar que as consequências funestas das migrações do Homo sapiens terão começado com o Australopithecus aferensis, eventualmente com o Ardipithecus ramidis, se não mesmo com os nossos avós chimpanzés.
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AUTO-RETRATO

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EÇA DE QUEIRÓS E A EXPOSIÇÃO DE UM AUTOR

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Ramalho Ortigão, pouco tempo depois, dizia dele numa carta carinhosa: - «Fradique Mendes é o mais completo, mais acabado produto da civilização em que me tem sido dado embeber os olhos. Ninguém está mais superiormente apetrechado para triunfar na Arte e na Vida. A rosa da sua botoeira é sempre a mais fresca, como a ideia do seu espírito é sempre a mais original. Marcha cinco léguas sem parar, bate ao remo os melhores remadores de Oxford, mete-se sozinho ao deserto a caçar o tigre, arremete com um chicote na mão contra um troço de lanças abissínias:- e à noite numa sala, com a sua casaca do Cook, uma pérola negra no esplendor do peitilho, sorri às mulheres com o encanto e o prestígio com que sorrira à fadiga, ao perigo e à morte. Faz armas como o cavaleiro de Saint-Georges, e possue as noções mais novas e as mais certas sobre Física, sobre Astronomia, sobre Filologia e sobre Metafísica. É um ensino, uma lição de alto gosto, vê-lo no seu quarto, na vida íntima de gentleman em viagem, entre as suas malas de couro da Rússia, as grandes escovas de prata lavrada, as cabaias de sêda, as carabinas de Winchester, preparando-se, escolhendo um perfume, bebendo golos de chá que lhe manda o Gran-Duque Vladimir, e ditando a um criado de calção, mais veneravelmente correcto que um mordomo de Luiz XIV, telegramas que vão levar noticias suas aos boudoirs de Paris e de Londres. E depois de tudo isto fecha a sua porta ao mundo - e lê Sófocles no original».

Este é um trecho de Eça n' “A Correspondência de Fradique Mendes”. A sua leitura suscitou-me duas reflexões. A primeira tem a ver com uma conversa tida há dias com pessoa amiga sobre a literatura como arte; isto é, o que faz da escrita arte: o conteúdo de ideias embrulhadas no texto, ou a forma como uma qualquer ideia é embrulhada? Tenho poucas dúvidas que ambos os requisitos são importantes, mas a forma ou estilo, é o selo de contraste da literatura quanto a mim, embora tal opinião não interesse a ninguém, está bem de ver.

A chamada escrita criativa usa a metáfora, a analogia, o inesperado adjectivo, o ritmo, a melodia produzida quando o texto é verbalizado, e muito mais, como ferramenta artística. O trecho transcrito em cima é o exemplo do que digo. E é exemplo porque o conteúdo merece prudência; e com isto entro na segunda reflexão.

Ninguém me acusará de impertinência com Eça pois sou o seu mais incondicional admirador nesta galáxia chamada de Via Láctea. Mas, tal como alguém escreveu, Eça era admirador da cidade até à saloiada. Dito isto assim, parece inconveniência mas não é tal. Aliás, é no romance “A Cidade e as Serras” que Eça se descai mais e deixa atraiçoar. A loas à aldeia e à província soam a descoberta fresca, incompletamente digerida. As malas de couro da Rússia, as grandes escovas de prata lavrada, as cabaias de sêda, as carabinas de Winchester, o chá do Gran-Duque Vladimir, e os telegramas com noticias para os boudoirs de Paris e de Londres de Fradique, são o máximo civilizacional para Eça: aquilo que o deslumbra, com que sonha, que ambiciona acima de tudo.

Há espíritos superiores e Eça era um. Foi bafejado pela natureza com excepcional e inspirada capacidade literária e inteligência singular. Mas era humano e as inferioridades ou algumas limitações afligem todos. A literatura é a forma artística onde é mais fácil encontrá-las e este excerto sobre Fradique demonstra-o cabalmente.
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