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A qualidade de país hegemónico é fugaz em perspectiva telúrica, como a História demonstra. Curioso é o facto de cada era não se aperceber disso ou, pelo menos, de os comportamentos de cada época não traduzirem a percepção de tal facto. Há pouco mais de 20 anos, o Presidente Bush (pai), a seguir à derrocada do muro de Berlim e ao fim da União Soviética em adiantado estado de putrefacção, proclamava do alto do púlpito da Assembleia Geral da Nações Unidas o início da nova ordem internacional, sob a tutela dos Estados Unidos da América. Vinte anos depois, a nova ordem mundial não se parece nada com o que Bush antecipava.
A América é ainda a mais poderosa potência militar, mas tal não basta nos tempos que correm: veja-se o problema do Afeganistão, por exemplo. O poder militar só já não impõe qualquer posição no mundo. A decantada armada inglesa que subjugava o império em que o Sol nunca se punha ficaria hoje bem longe de o conseguir – só império de vinte e quatro horas à luz da vela de sebo e era um pau. A ordem mundial estabelecida pela política da canhoneira acabou.
As potências militares têm de impor-se por outras vias, em que a ética, a produção intelectual e sobretudo a economia, são pedras de toque. Sobretudo a economia. Não se percebe, contudo, se ainda vão a tempo perante o fenómeno das potências emergentes, Rússia, Brasil, China e Índia: a capacidade económica faz destas pólos de poder crescente, três dos quais na Ásia, que ameaçam a chamada “supremacia ocidental”. Tempo virá em que os netos dos nossos netos ficarão de óstio bucal escancarado ao ouvir que os Estados Unidos da América já foram o centro do mundo, de onde vinha a investigação científica, a inovação tecnológica, o grande jornalismo, o cinema, a exploração do espaço sideral, a música popular e não só, e muitas outras formas de cultura, incluindo a moda “de Paris”. Tão admirados como agora ficamos a ouvir coisa parecida do Egipto ou da Grécia.
O mundo não pára, os homens não param, as culturas não param, as civilizações não param, e a hegemonia também não tem sossego.
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