.
Há uma boutade do responsável pelo departamento de patentes dos Estados Unidos, nos finais da II Guerra, há 65 anos, mais ou menos assim: “Tudo que podia ser inventado já foi inventado”. Jericada com piada porque zurrada por aquele funcionário e não outro.
Mas é preciso dizer que, com inesperada frequência, quem é inculto e lê textos cultos, como eu, se surpreende com o achado de dissertações sobre temas alegadamente novos na boca – pena neste caso – de gente velha. Hoje tropecei neste excerto:
À medida que a indústria e as artes se estendem e florescem, o cultivador desprezado, carregado de impostos necessários à manutenção do luxo, e condenado a passar a vida entre o trabalho e a fome, abandona o campo para ir procurar na cidade o pão que devia levar para lá. Quanto mais as capitais impressionam de admiração os olhos estúpidos do povo, tanto mais seria preciso lastimar o abandono dos campos, as terras incultas e as estradas cheias de cidadãos desgraçados transformados em mendigos ou ladrões, e destinados um dia a acabar a sua miséria pelos caminhos ou sobre um monte de esterco. É assim que o Estado se enriquece por um lado, e se enfraquece e se despovoa, por outro, e que as mais poderosas monarquias, após muitos trabalhos para se tornarem opulentas e desertas, acabam por se tornar a presa de nações pobres que sucumbem à funesta tentação de as invadir, que enfraquecem por sua vez, até que elas mesmas sejam invadidas e destruídas por outras.
Na minha incultura praticante, fiquei duplamente abismado perante o brilho do texto e a antiguidade do problema em apreço: o autor é Jean-Jacques Rousseau e por isso o trecho é brilhante; mas o livro é o “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade”, e a data é 1754! Há 256 anos!!
Não estará tudo inventado, mas começo a acreditar que as consequências funestas das migrações do Homo sapiens terão começado com o Australopithecus aferensis, eventualmente com o Ardipithecus ramidis, se não mesmo com os nossos avós chimpanzés.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário