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Paul Krugman conta no “New York Times” uma anedota do início do ano passado e depois comenta. A anedota era assim: Qual a diferença entre a Islândia (Iceland em inglês) e a Irlanda (Ireland). A resposta certa era: uma letra e cerca de seis meses.
Na altura, parecia uma história de mau gosto, dada a situação aflitiva da Islândia. Hoje, menos de dois anos depois, a Irlanda está muito pior que a Islândia. E porquê?
Segundo Krugman, porque a Islândia se demarcou do problema entre os bancos gananciosos - envolvidos em negócios mirabolantes de concessão de créditos notoriamente ruinosos - e os seus financiadores, também eles gente de princípios pouco cristalinos. Afinal, era um problema de privados com que o erário público tinha pouco ou nada a ver.
Na Irlanda, que tinha um défice público pequeno, o governo decidiu salvar os bancos privados, e indirectamente os investidores insaciáveis e pouco escrupulosos, também privados, com o dinheiro público dos contribuintes. O défice disparou e a austeridade tornou-se insustentável para os irlandeses, que além de fiscal e laboralmente depenados, viram a economia a encolher e o desemprego subir em ascensão meteórica.
O artigo de Krugman intitula-se “Comer os Irlandeses” e inspira-se num ensaio de 1729 ("A Modest Proposal") de Swift, autor da história “As Viagens de Gulliver”, em que, perante a pobreza da Irlanda, Swift propunha a venda de crianças para alimentação. E justificava: é a alimentação própria para os senhores da terra que já comeram os pais. Na verdade, os banqueiros irlandeses já comeram os pais e preparam-se para comer os filhos na próxima geração…, pelo menos!
São estes trastes que permitem à esquerda folclórica e sem ponta por onde pegar o arremesso de flechas envenenadas. Infelizmente com razão.
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