.
.
.
As asneiras estão feitas - muitas, se não todas, em nome da demagogia e do eleitoralismo de partidos empenhados na conquista do poder e não no que é bom no médio/longo prazo – e não se pode voltar atrás. Mas é obrigatório recapitular e vermos onde estamos e como cá chegámos: leia-se o jornal “i” de hoje:
Como chegámos até aqui? Os anos 90 pareciam cumprir a promessa de aproximação ao pelotão da frente da Europa feita exactamente há 25 anos, aquando da entrada na CEE. Mas não demorou muito até o sonho se começar a estilhaçar. "Nos anos 90 sofremos um choque positivo da abertura ao exterior, com uma convergência nominal de rendimentos. Na década seguinte foi o contrário, com uma concorrência externa avassaladora. Portugal foi dos mais prejudicados com a abertura à China", explica Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI. "Saímos da década de 80 e 90 com certas esperanças que a abertura comercial não permitiu concretizar. As nossas elevadas expectativas de consumo só puderam ser concretizadas através do crédito."
A descida abrupta das taxas de juro conduziram a uma explosão da concessão de crédito, diminuição de poupança e mais endividamento. "Os juros tinham descido brutalmente, a subida da procura fez aumentar as receitas dos impostos e as grandes privatizações permitiram um grande encaixe financeiro. Entrou muito dinheiro", lembra Miguel Beleza, antigo ministro das Finanças. Então o que falhou? O modelo de desenvolvimento e o investimento muito orientado para bens não transaccionáveis (banca, retalho e concessões) criando um tecido produtivo fraco. Os responsáveis políticos não foram capazes de resolver os problemas estruturais da economia, nomeadamente a fraca produtividade, a que se junta um desequilíbrio cada vez maior das contas públicas.
"Foi uma década falhada e perdida, que resultou de erros graves de política económica através da insistência num modelo que já apresentava sinais de cansaço", aponta Cantiga Esteves. Beleza concorda: "Basta olhar para os números e não encontro nada de positivo nesta década."
Podemos esperar que esta década seja de tira-teimas. Não só para Portugal, como para a zona euro. Portugal e outros periféricos serão afastados da união monetária? A Alemanha irá cansar-se de resgatar outras economias? Ou serão dados mais passos em torno de uma união fiscal? "Os próximos anos serão um teste à sustentabilidade da zona euro. Corremos de facto o risco de vivermos mais uma década perdida", conclui João Rodrigues.
Filipe Paiva Cardoso e Nuno Aguiar in “i”
..
Sem comentários:
Enviar um comentário