segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ENTRE ASPAS

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[...] «Apesar da pose inicial de estadista reformador, Sócrates viu-se logo envolvido num espectacular ardil para fugir da solene promessa eleitoral de não aumentar impostos. A surpresa indignada perante o que todos sabiam, o nível do défice, e a comissão técnica justificativa da cambalhota foram criações magistrais no género.

Este foi apenas o primeiro episódio de longa novela de ficções e patranhas. As questões financeiras permaneceram tema favorito, até ao rosário de PEC de 2010. A descarada desorçamentação e contabilidade criativa para sustentar projectos favoritos, como energias renováveis, distribuição de computadores e outros devaneios, escondem pesadíssimos compromissos sobre o futuro. Sobretudo as parcerias público-privadas, em que se apostou como nenhum governo do mundo, representam uma bomba de relógio fiscal que ultrapassa toda a nossa multissecular história de desregramento.

Nem só de dinheiros viveu a aldrabice. Todos os campos da vida nacional estiveram, mais ou menos, debaixo da sombra da falsidade. Das graves acusações na sua vida pessoal às supostas reformas corajosas que não mudavam nada, foram cinco anos de encenações, enredos e miragens. Claro que se tomaram medidas importante e foram feitas mudanças estruturais. Mas até essas tinham de vir sempre envolvidas em pretensões exageradas e roupagens fantásticas.» [...]
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João César das Neves in "Diário de Notícias"
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