terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"MALHAR" NA MERCKEL

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Hoje é Terça-Feira e dia, graças a Deus, de ler o Dr. Soares no "Diário de Notícias", o que preenche a minha semana em termos de alimentação intelectual.

Como é indispensável, esperado por todos, e tão regular como um relógio suíço, lá vem "malhar" nos «dirigentes conservadores da Alemanha e da França», com particular desvelo na Senhora Merckel, personagem que deve povoar os pesadelos do Dr. Soares. E, natural e óbviamente, fala dos "mercados" e diz: «Os mercados, uma vez perdida a ilusão da especulação com o euro, sobretudo nos países mais visados, a Grécia e a Irlanda, ou param ou continuam. A continuar, o "nervosismo" dos mercados (como se diz, para evitar a palavra especulação), os próximos seriam Portugal, Espanha e talvez a Bélgica.»
Curiosamente, li isto pouco depois de ler António Barreto - e peço desculpa a António Barreto por misturar os seus escritos com a conversa do Dr. Soares. Escreve Barreto: «Adiar as decisões difíceis, pensar sempre a curto prazo, prometer o impossível, recorrer à demagogia como regra da política, comprometer o futuro e culpar os outros (os mercados internacionais, os banqueiros, os países europeus, os americanos, as multinacionais, os ambiciosos, os especuladores...) parecem ser hábitos da política portuguesa.»

É verdade, Dr. Soares, a culpa é nossa, não da Senhora Merckel, que não pode sobrecarregar os contribuintes alemães para socorrer gente que não se governa. Nem está disposta a aturar patetas que não cumprem aquilo com que se comprometeram e ambicionam viver à custa do erário público germânico, em nome da solidariedade europeia.

O fragmento citado de António Barreto vem na sequência de outro onde diz: «Numa reflexão sobre as eventuais consequências sociais e políticas da adesão de Portugal ao Euro, escrevi então que uma das vantagens residia na necessária disciplina financeira a que os governos portugueses, nessas novas circunstâncias, se deveriam submeter. Pressionados e vigiados pelas instituições europeias, pelos governos e pelos mercados, os políticos portugueses teriam, pensava eu, um enorme cuidado na sua gestão financeira e económica, evitariam disparates e refreariam a sua atávica inclinação para a demagogia. Reconheço hoje que se tratou de optimismo não fundamentado. Na verdade, passados estes anos, verifico que essa disciplina não foi eficaz. Por várias razões de ordem interna (a que não são estranhos termos como demagogia, irresponsabilidade e incompetência), as autoridades portuguesas e os vários governos que se sucederam desde 1998 persistiram nas políticas de despesa pública excessiva, de apoio à expansão desregrada de crédito e de fomento exagerado do consumo público e privado. Sem esquecerem as grandes obras majestáticas e os compromissos tomados a longo prazo que hipotecam o futuro das novas gerações.»

Voilá! Isto é a realidade portuguesa. O resto é conversa, ou de cigano, ou de demagogo, ou de socialista – provavelmente as três coisas em conjunto.
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