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Quase
30% da superfície da Terra emergiu do fundo dos oceanos e nela habitam milhões
de milhões de criaturas vivas, entre elas o auto-denominado Homo sapiens, com mais de 7 mil milhões
de especímenes. Oriundo de África, o homem colonizou a maior parte emersa do planeta,
formou tribos e outras formas de vida colectiva e, por necessidade de
sobrevivência, organizou-se em nações e estados. Segundo a ONU, existem 193
países, se excluirmos casos com perfil mal definido ou controverso, como Taiwan, o Vaticano
ou a Palestina. Naturalmente, há diferenças substanciais entre eles em número
significativo de aspectos, sejam demográficos, culturais, económicos, sociais e
por aí fora.
Lembrei-me
disto quando li, numa notícia do "The Guardian", que Howard Cotto, comissário da polícia
civil de El salvador, anunciou ao mundo, na passada quinta-feira, que no dia
anterior, 11 de Janeiro de 2017, ninguém havia sido abatido a tiro no País.
O espanto é que desde 22 de Janeiro de 2015, há praticamente dois anos, não tinha passado um dia sem que alguém
não tivesse tido morte violenta em El Salvador. E que, anteriormente, nos
últimos anos, só em 2013 se registou um dia em que essa desgraça não aconteceu.
Dir-me-ão que haverá países onde o cenário será o mesmo—até
pior—o que é verdade; mas são países com muito maior dimensão e situações de guerra
declarada. El Salvador é uma pequena nação com pouco mais de 20 mil km2
(Portugal tem 92 mil), habitado apenas por 6 milhões de almas que não se encontram declaradamente
em guerra com ninguém. Em 2015, os crimes de homicídio ocorreram à taxa de 104
por 100.000 habitantes, a maior do mundo. Para ter ideia do que isto significa,
recordarei que em 2013 aquela taxa foi de 0,69/100.000 em Espanha, 0,44/100.000
na Áustria e 0,50/100.000 na Suíça. Naturalmente, as guerras entre carteis da
droga desempenham papel primordial no fenómeno, mas não só. Na realidade, todos
os povos são iguais, é verdade; mas as circunstâncias sociais promovem
comportamentos diferentes. Comportamento deplorável no caso desta pequena república da América Central.
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