domingo, 19 de setembro de 2010

O SEXTO CONTINENTE


Descoberta e popularização do plástico, acontecimento quase metafísico, dizia-se: graças à Química, o homem superou a natureza ao criar material mais resistente que a madeira, mais leve que o aço, elástico como a borracha, e moldável ao seu gosto. Em 1957, Roland Barthes, entusiasmado, escrevia em "Mythologies" sobre a nova substância alquímica capaz de criar mil objectos com baixo custo, que pela primeira vez, o engenho serviu ao comum e não ao raro. E acrescentava esta coisa profética: O mundo inteiro pode ser plastificado.
Era e é verdade – agora mais que nunca: os americanos consomem 2,5 milhões de garrafas de plástico por hora e 25 mil milhões de chávenas de café em polistireno por ano. Em cada um desses anos, produzem 6,8 milhões de toneladas de plástico, das quais só 450 mil toneladas são recicladas.
No problem?
Em 1997, o navegador Charles Moore ao atravessar o Pacífico Norte viu subitamente o seu navio cercado por um mundo de garrafas, escovas de dentes, sacos, capacetes, brinquedos, e por ai fora – tudo plástico, rodando no sentido dos ponteiros do relógio. No ano seguinte volta lá para avaliar melhor a situação e estima que o depósito oceânico de lixo tem cerce de 3 milhões de toneladas de plástico concentrado no local pelas correntes. A área é a do Estado do Texas, ou da Europa Central. A lixeira é conhecida como sexto continente, designação estupidamente cínica.
O homem lança no mar 675 toneladas de lixo por hora. As algas e a água acabam por degradar a maior parte. Mas o plástico resiste a tudo: vai-se fragmentando, mas resiste. É ingerido pelos peixes que são intoxicados, quando não morrem de imediato, e envenena a cadeia alimentar. Remover toda aquela massa de resíduos implica investimento não aceitável por nenhum estado – só a cooperação internacional o pode fazer, mas não faz. E que destino dar a tal trapalhada?Depois de ler isto, vale a pena rever, ou ver, o vídeo publicado ontem aqui sobre o nosso planeta. Todos somos um, sejamos homens, animais, plantas, minerais naturais, ou materiais sintéticos, e temos de viver em conjunto, respeitando-nos; isto é, respeitando o homem os outros protagonistas.
Difícil, mas indispensável.
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