quarta-feira, 31 de maio de 2017

QUANTO TEMPO O TEMPO TEM

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Ó tempo volta para trás, dá-me tudo que eu perdi; tem pena e dá-me a vida, a vida que eu já vivi; cantava António Mourão e cantava bem. Mas havia um problema no pedido de Mourão: é que ninguém sabe exactamente o que é isso a que chamamos tempo e ele queria ver a andar para trás. 
Santo Agostinho tinha chegado a uma conclusão sobre a matéria, estava tranquilo e explicava porquê: se ninguém me pergunta, sei o que é o tempo; mas se perguntam, não sei.
As mais inspiradas cabeças da Humanidade passaram por dificuldade semelhante à de Agostinho. Einstein, por exemplo, gostava pouco que lhe falassem nisso; mas se alguém o "apertava", respondia que tempo é aquilo que medimos com os relógios e ponto final. No entanto, Einstein sabia — melhor que ninguém — que um relógio em movimento parece andar mais devagar que outro estacionário, mas não se descosia.
Felizmente, a medição do tempo foi sempre muito tosca e continua a ser um bocado. Bons tempos houve em que havia a hora de início do dia e a hora de fim do dia e eram assim felizes os nossos avós. Depois começou a haver essa coisa das fases da Lua e, em vez de se contar apenas horas, começou-se a contar dias, o que já foi mau. A seguir chegou-se à conclusão que havia estações e vieram os anos. Daí para a frente, foi um horror que culminou nessa geringonça dos relógios atómicos para que não há a mínima pachorra. Vejam lá que já andaram dois tontos a dar voltas ao mundo de avião, com 4 relógios atómicos ao lado, umas vezes de Leste para Oeste e outras de Oeste para Leste, para comparar as horas, minutos, segundos e cagagésimos de segundo desses relógios com o relógio do U.S. Naval Observatory! Parece que há diferenças, dizem eles!
Há pachorra? Definitivamente, não há. Em sinal de protesto, a partir de amanhã vou orientar-me exclusivamente por um relógio da areia, apenas e só, quando joga o Benfica.

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METRO DE MOSCOVO

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Toca Errol Garner "The Petite Waltz"
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AZUL MARINHO

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SABER ESCREVER !

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Eu chamo-me Teodoro – e fui amanuense do Ministério do Reino.
Nesse tempo vivia eu à Travessa da Conceição nº 106, na casa de hóspedes da D. Augusta, a esplêndida D. Augusta, viúva do major Marques. Tinha dois companheiros: o Cabrita, empregado na Administração do Bairro Central, esguio e amarelo como uma tocha de enterro; e o possante, o exuberante tenente Couceiro, grande tocador de viola francesa.
A minha existência era bem equilibrada e suave. Toda a semana, de mangas de lustrina à carteira da minha repartição, ia lançando, numa formosa letra cursiva, sobre o papel «Tojal» do Estado, estas frases fáceis: «Il.mo e Ex.mo Sr. – Tenho a honra de comunicar a V. Ex.a... Tenho a honra de passar às mãos de V. Ex.a, Il.mo e Ex.mo Sr...»
Aos domingos repousava: instalava-me então no canapé da sala de jantar, de cachimbo nos dentes, e admirava a D. Augusta, que, em dias de missa, costumava limpar com clara de ovo a caspa do tenente Couceiro. Esta hora, sobretudo no Verão, era deliciosa: pelas janelas meio cerradas penetrava o bafa da soalheira, algum repique distante dos sinos da Conceição Nova e o arrulhar das rolas na varanda; a monótona sussurração das moscas balançava-se sobre a velha cambraia, antigo véu nupcial da Madame Marques, que cobria agora no aparador os pratos de cerejas bicais; pouco a pouco o tenente, envolvido, num lençol como um ídolo no seu manto, ia adormecendo, sob a fricção mole das carinhosas mãos da D. Augusta; e ela, arrebitando o dedo mínimo branquinho e papudo, sulcava-lhe as repas lustrosas com o pentezinho dos bichos... Eu então, enternecido, dizia à deleitosa senhora:
– Ai D. Augusta, que anjo que é!
Ela ria; chamava-me enguiço! Eu sorria, sem me escandalizar. «Enguiço» era com efeito o nome que me davam na casa – por eu ser magro, entrar sempre as portas com o pé direito, tremer de ratos, ter à cabeceira da cama uma litografia de Nossa Senhora das Dores que pertencera à mamã, e corcovar. Infelizmente corcovo – do muito que verguei o espinhaço, na Universidade, recuando como uma pega assustada diante dos senhores lentes; na repartição, dobrando a fronte ao pó perante os meus directores-gerais. Esta atitude de resto convém ao bacharel; ela mantém a disciplina num Estado bem organizado; e a mim garantia-me a tranquilidade dos domingos, o uso de alguma roupa branca, e vinte mil réis mensais.
Não posso negar, porém, que nesse tempo eu era ambicioso – como o reconheciam sagazmente a Madame Marques e o lépido Couceiro. Não que me revolvesse o peito o apetite heróico de dirigir, do alto de um trono, vastos rebanhos humanos; não que a minha louca alma jamais aspirasse a rodar pela Baixa em trem da Companhia, seguida de um correio choutando; – mas pungia-me o desejo de poder jantar no Hotel Central com champanhe, apertar a mão mimosa de viscondessas, e, pelo menos duas vezes por semana, adormecer, num êxtase mudo, sobre o seio fresco de Vénus. Oh! moços que vos dirigíeis vivamente a S. Carlos, atabafados em paletós caros onde alvejava a gravata de soirée! Oh! tipóias, apinhadas de andaluzas, batendo galhardamente para os touros – quantas vezes me fizestes suspirar! Porque a certeza de que os meus vinte mil réis por mês e o meu jeito encolhido de enguiço, me excluíam para sempre dessas alegrias sociais, vinha-me então ferir o peito – como uma frecha que se crava num tronco, e fica muito tempo vibrando!
Ainda assim, eu não me considerava sombriamente um «pária». A vida humilde tem doçuras: é grato, numa manhã de sol alegre, com o guardanapo ao pescoço, diante do bife de grelha, desdobrar o «Diário de Notícias»; pelas tardes de Verão, nos bancos gratuitos do Passeio, gozam-se suavidades de idílio; é saboroso à noite no Martinho, sorvendo aos goles um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria... Depois, nunca fui excessivamente infeliz – porque não tenho imaginação: não me consumia, rondando e almejando em torno de paraísos fictícios, nascidos da minha própria alma desejosa como nuvens da evaporação de um lago; não suspirava, olhando as lúcidas estrelas, por um amor à Romeu ou por uma glória social à Camors. Sou um positivo. Só aspirava ao racional, ao tangível, ao que já fora alcançado por outros no meu bairro, ao que é acessível ao bacharel. E ia-me resignando, como quem a uma table d'hôte mastiga a bucha de pão seco à espera que lhe chegue o prato rico da charlotte russe. As felicidades haviam de vir: e para as apressar eu fazia tudo o que devia como português e como constitucional: – pedia-as todas as noites a Nossa Senhora das Dores, e comprava décimos da lotaria.
No entanto procurava distrair-me. E como as circunvoluções do meu cérebro me não habilitavam a compor odes, à maneira de tantos outros ao meu lado que se desforravam assim do tédio da profissão; como o meu ordenado, paga a casa e o tabaco, me não permitia um vício – tinha tomado o hábito discreto de comprar na Feira da Ladra antigos volumes desirmanados, e à noite, no meu quarto, repastava-me dessas leituras curiosas. Eram sempre obras de títulos ponderosos: «Galera da Inocência», «Espelho Milagroso», «Tristeza dos Mal-Deserdados»... O tipo venerando, o papel amarelado com picadas de traça, a grave encadernação freirática, a fitinha verde marcando a página – encantavam-me! Depois, aqueles dizeres ingénuos em letra gorda davam uma pacificação a todo o meu ser, sensação comparável à paz penetrante de uma velha cerca de mosteiro, na quebrada de um vale, por um fim suave de tarde, ouvindo o correr da água triste...
Uma noite, há anos, eu começara a ler, num desses in-fólios vetustos, um capítulo intitulado «Brecha das Almas»; e ia caindo numa sonolência grata, quando este período singular se me destacou do tom neutro e apagado da página, com o relevo de uma medalha de ouro nova brilhando sobre um tapete escuro: copio textualmente:
«No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?»
Estaquei, assombrado, diante da página aberta: aquela interrogação «homem mortal, tocarás tu a campainha?» parecia-me faceta, picaresca, e todavia perturbava-me prodigiosamente. Quis ler mais; mas as linhas fugiam, ondeando como cobras assustadas, e no vazio que deixavam, de uma lividez de pergaminho, lá ficava, rebrilhando em negro, a interpelação estranha – «tocarás tu a campainha?»
Se o volume fosse de uma honesta edição Michel-Levy, de capa amarela, eu, que por fim não me achava perdido numa floresta de balada alemã, e podia da minha sacada ver branquejar à luz do gás o correame da patrulha – teria simplesmente fechado o livro, e estava dissipada a alucinação nervosa. Mas aquele sombrio in-fólio parecia exalar magia; cada letra afectava a inquietadora configuração desses sinais da velha cabala, que encerram um atributo fatídico; as vírgulas tinham o retorcido petulante de rabos de diabinhos, entrevistos numa alvura de luar; no ponto de interrogação final eu via o pavoroso gancho com que o Tentador vai fisgando as almas que adormeceram sem se refugiar na inviolável cidadela da Oração!... Uma influência sobrenatural apoderando-se de mim, arrebatava-me devagar para fora da realidade, do raciocínio: e no meu espírito foram-se formando duas visões – de um lado um mandarim decrépito, morrendo sem dor, longe, num quiosque chinês, a um ti-li-tim de campainha; do outro toda uma montanha de ouro cintilando aos meus pés! Isto era tão nítido, que eu via os olhos oblíquos do velho personagem embaciarem-se, como cobertos de uma ténue camada de pó; e sentia o fino tinir de libras rolando juntas. E imóvel, arrepiado, cravava os olhos ardentes na campainha, pousada pacatamente diante de mim sobre um dicionário francês – a campainha prevista, citada no mirífico in-fólio...
Foi então que, do outro lado da mesa, uma voz insinuante e metálica me disse, no silêncio:
– Vamos, Teodoro, meu amigo, estenda a mão, toque a campainha, seja um forte!
[...]
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Eça de Queirós in "O Mandarim"
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PONTO DE VISTA E CEGUEIRA

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Arquimedes de Siracusa terá um dia dito: Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio que eu levantarei o mundo. Embora o arrincanço do siracusano fosse teoricamente correcto, não passava de uma boutade, por impraticável. 
O mesmo não acontece com o que vou dizer a seguir: Dêem um ponto de vista a um homem activo ou empreendedor e ele poderá mudar o mundo — para o bem, ou para o mal, acrescento. Já percebeu quem lê de vez em quando O Dolicocéfalo que essa coisa do "ponto de vista" é matéria que lhe dá para pensar.
O ponto de vista exprime-se com facilidade nas imagens — sejam fotografias ou pinturas — que mostram ângulos inesperados da realidade, a que não estamos habituados, ou que até nunca vimos. Mas o ponto de vista que comanda, e tem comandado, a vida é muito mais que um ângulo da visão propriamente dita: é, sobretudo, um modo de relacionar factos históricos, sociais, políticos, económicos, estéticos, esotéricos, religiosos, psicológicos e um incontável conjunto de outros aspectos relacionados com o Homo sapiens e o seu contacto com o habitat.
Por exemplo, Hitler — no livro Mein Kampf — escreve que, se no princípio e durante a Iª Guerra, doze ou quinze mil corruptos hebreus tivessem sido exterminados com gases tóxicos, como aconteceu nas trincheiras a centenas de soldados /trabalhadores alemães, o sacrifício na "frente" não teria sido em vão. E também que o abate dos "fracos" se justifica para dar lugar ao espaço e pureza adequados aos "fortes". É tudo isto uma burrice, dir-se-á e bem, mas era um ponto de vista que veio a dar no que deu.
Pelo contrário, de Gaulle — que não foi exactamente o que se diz, embora um grande homem — ao invés de Pétain, achou que para Hitler só havia uma posição, qual era a de resistir até ao fim pelas armas. Pétain não era um cobarde — já havia dado provas na 1ª Guerra. Pétain tinha, tão somente, um ponto de vista diferente de de Gaulle.
Os exemplos podem ser dados até amanhã de manhã, mas não interessam porque são passado e o que interessa é futuro. E este depende hoje duma aparente "besta encartada" que responde por Trump — um tosco ignorante, pouco sério e sem escrúpulos, que acha não ser legítimo infringir porque um picuínhas desconhecido decretou que isso deve levar à cadeia. O futuro da parte mais evoluída da Humanidade a Ocidente está hoje dependente do ponto de vista de um exemplar decrépito, trafulha  e patético do Homo sapiens — dá que pensar como se chegou a isto, através do ponto de vista colectivo de uma multidão de americanos! Raios partam tal ponto de vista  mais de cegueira do que de vista.
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terça-feira, 30 de maio de 2017

OS GRANDES VELEIROS

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BATATA CHINESA

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Investigadores chineses encontraram fitolitos da planta do arroz, com quase 10.000 anos, nas margens do Rio Iangtze, onde provavelmente caçadores-recolectores terão abandonado a vida nómada e assentado arraiais.
Os fitolitos, fósseis da planta, são fragmentos de sílica "feitos" por ela para auto-defesa e para resistir ao tempo. Têm de ser retirados da terra, lavados e aquecidos lentamente até ficarem em pó. Depois é feita a datação pelo carbono-14. Os mais antigos encontrados são de há 9.400 anos.
Tal arroz era completamente diferente do actual ("domesticado"), que tem grãos maiores e é base da alimentação — às vezes quase única — de metade da Humanidade! Não em Portugal, onde a batata é muito importante. Os militares europeus em Timor, nos anos 60, chamavam ao arroz "batata chinesa" e, a maior parte deles, presumo, nunca mais deve ter comido um grão no resto da vida.
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EVOCAÇÃO DUM SACANA

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Muitas vezes me tenho referido a Newton a respeito de algumas e eventuais asneiras sobre Física que vou escrevendo — o papel (neste caso, o disco do computador, seu equivalente no Século XXI) aguenta tudo, dizia o Professor Juvenal Esteves, meu Mestre. Pois Newton não foi só um grande homem da Física — foi também um grande sacana: o mais possível. Teve muitas disputas com colegas do mesmo ofício e portou-se muito mal bastantes vezes; mesmo de forma mesquinha, o que significa que o saber não faz a cabeça grande nem decente.
Um dos inimigos de estimação de Newton foi o alemão Gottfried Leibniz que desenvolveu um sistema de cálculo matemático ainda hoje em uso na Física moderna. Newton  também o fez — e até antes — mas só publicou os resultados muito mais tarde. Naturalmente, a disputa foi inevitável, com defensores dum e doutro. Mas o notável é que os artigos pró-Newton eram escritos por ele próprio, usando nomes de amigos.
À medida que a contenda ia crescendo, Leibniz teve a ingenuidade de recorrer para a Royal Society, acusando Newton de plágio. Newton, que  era Presidente da Society, nomeou uma comissão "imparcial" para se pronunciar sobre a matéria; comissão constituída, exclusivamente, por amigos,  redigindo ele próprio as conclusões a que chegaram. Não satisfeito com tanta borrada, escreveu ainda um artigo anónimo de revisão e comentário dessas conclusões na revista da Society
E quando soube da morte de Leibniz, terá declarado em público que estava muito satisfeito com a paragem do coração dele.
E que tal dois estalos na cara, apesar da maçã, da Terra e da força da gravidade? Não eram nada mal dados e não deixava por isso de haver a força da gravidade. 
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METRO DANCERS

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No Metro de Lisboa há quem toque acordeão.
Mas, em Nova Iorque, veja o que pode esperar.
Uma média de 75 a 200 dólares por dia, dizem eles.
Not bad!...
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JULGAR É DIFÍCIL

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Todas as coisas mudam com o ponto de vista
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O PAQUIDERME

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Para a estranha relação entre Trump e a Rússia nunca houve explicação clara. O mais provável seria tratar-se duma aproximação de conveniência entre o Presidente e Putin; não de uma aliança. Contudo, na última semana, surgiram sinais de que existirá aliança, ou coisa próxima.
Na viagem à Europa, Trump comportou-se como defensor dos interesses de Putin. E, depois do regresso a Washington, soube-se da tentativa do seu genro e conselheiro estabelecer um canal de comunicação secreto com a Rússia de Putin. Há, neste momento, vários jornalistas especializados a escrever sobre isso.
Anne Applebaum, no The Washington Post, acerca da deterioração na relação EUA/Europa, escreve: "O Governo Russo, que sempre quis ver os EUA fora da Europa, está satisfeitíssimo."
David Frum, no The Atlantic, diz: "Desde 1945, o principal objectivo estratégico da URRS — e depois da Rússia — na Europa foi deteriorar a aliança EUA/Alemanha.  Trump conseguiu-o".
Josh Marshall, no Talking Points Memo, escreve que "devíamos preocuparmo-nos menos com o porquê da aliança de facto de Trump e Putin contra a Europa e mais com as suas consequências". E acrescenta: "O aspecto importante é que os dois parecem ter objectivos comuns".
E Max Fisher, num tweet, começa assim: "Quando me encontrei com líderes alemães, em Janeiro, eles estavam já a preparar-se para a possibilidade da ruptura com os EUA".
A Europa não pode ser eternamente um protectorado dos Estados Unidos, nem estes a nossa babysitter. É verdade. Mas deixar ao cuidado de um alarve como Trump a condução do processo, está mesmo a ver-se que dá bota. Pior que o elefante na feira das louças. 
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TITANIC EM ROTA DE COLISÃO

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segunda-feira, 29 de maio de 2017

OS GRANDES VELEIROS

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AS FÉRIAS MORAIS DA AMÉRICA

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DEFENDER OS DIREITOS DO PEÃO

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RONALDO/MESSI

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Poucas vezes — se alguma — na história do futebol se terá jogado assim.
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SIMETRIA

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PORQUE EXISTE O MUNDO ?

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Em carta de 22 de Agosto de 1883, da Rainha Vitória para a neta, Princesa Vitória de Hesse:

Alertar-te-ia contra o tentar descobrir a explicação de tudo... Tentar encontrar a razão de tudo é muito perigoso e não dá senão desapontamento e insatisfação, intranquilidade, fazendo-te por fim infeliz.
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Jim Holt é um filósofo americano, ensaísta, colonista do The New York Times, do New Yorker, do London Review of Books e autor de vários livros, dos quais  o mais conhecido será o Why Does the World Exist?
Deste, que vale a pena ler porque escrito em linguagem clara, numa edição Kindle (on line) sobre a origem do Universo, destaco o seguinte passo em que põe o problema implícito no título. 
O problema com a opção científica parece ser o seguinte. O Universo compreende tudo que fisicamente existe.  
Uma explicação científica deve envolver qualquer tipo de causa física. Mas toda a causa física é, por definição, parte do Universo a ser explicado. Assim, qualquer explanação científica da existência do Universo está fadada a ser "circular". Mesmo que comece com qualquer coisa, mínima que seja — um "ovo" cósmico, uma pequena parte de vácuo quântico, uma singularidade — começa com qualquer coisa, não com nada. A ciência pode ser capaz de traçar como o Universo actual evoluiu duma realidade física  remota, indo atrás, até ao Big Bang. Mas, em última análise, esbarra numa parede pois não penetra no estado físico anterior, o nada. Isto é, pelo menos, a base principal em que os defensores de Deus se apoiam.
Historicamente, quando a Ciência se mostrou incapaz de explicar um fenómeno natural, os crentes foram 
sempre prontos a invocar o Artífice Divino para 
preencher a lacuna — embaraçados apenas quando a
Ciência, posteriormente, a preenchia. Newton, por exemplo, achava que Deus era necessário para, de tempos a tempos, fazer ajustes nas órbitas dos planetas a fim de não chocarem. Mas, um século mais tarde, Laplace provou que a Física era capaz de explicar a estabilidade do Sistema Solar. Quando Napoleão perguntou a Laplace onde estava Deus no seu esquema celestial, Laplace, alegadamente, terá respondido: "Não tive necessidade dessa hipótese".
Mais recentemente, crentes religiosos têm defendido que a selecção natural cega, só por si, não pode garantir a emergência de organismos vivos complexos e, portanto, Deus deve estar a "guiar" o processo evolutivo — ponto de vista veementemente contestado por ateus militantes, como Dawkins e outros darwinistas. Tais argumentos, de um  Deus "tapa buracos", envolvido em minúcias biológicas e astrofísicas, diz ele, tendem a rebentar nas bochechas dos religiosos que os invocam. E acrescenta: "Mas esses crentes sentem-se tranquilos e seguros perante a questão: Porque há tudo o que há em vez de nada? — o que também é verdade e uma  pergunta a que Dawkins não sabe responder.
Um dia, falarei sobre essa coisa da expressão "Haver nada", o que soa um nadinha a contradição. É "haver nada" uma contradição? Vou pensar melhor; depois digo, se chegar a alguma conclusão.
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S. DOMINGOS DE BENFICA

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Neste Bairro é tudo vermelho
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domingo, 28 de maio de 2017

BARBARA WRIGHT

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SALTAR AO EIXO

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BIBLIOFILIA E CABOTINAGEM

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Ler livros é tido em muitos círculos como uma manifestação de qualidade intelectual de quem os lê. Sempre foi assim — ou quase sempre. 
O livro é o ícone da intelectualidade, mesmo na era em que tudo está disponível na Net, com possibilidade de ler em paralelo textos diferentes, de os guardar em ficheiros independentes ou comuns, de consultar facilmente dicionários ou enciclopédias para tirar dúvidas, de procurar imagens relativas à matéria, blá, blá, blá. Não critico quem lê e gosta de livros, mas quem os usa para se "dar ares" — ponto.
Já no tempo da antiga Roma havia disso. O livro era "impingido", literalmente. De acordo com Martial, escritor satírico romano, o panorama era como segue, sendo que a tradução pode atraiçoar o leitor (faço o melhor que sei):

Lês para mim quando estou em pé, lês para mim quando me sento,
Lês para mim quando corro, lês para mim quando cago.
Fujo para os banhos, sopras-me nas orelhas.
Vou para a piscina, não me deixas nadar.
Apresso-me para jantar, atravessas-te no meu caminho.
Chego à comida, as tuas palavras entopem-me.
(You read to me as I stand, you read to me as I sit,
You read to me as I run, you read to me as I shit.
I flee to the baths; you boom in my ear.
I head for the pool, you won’t let me swim.
I hurry to dinner, you stop me in my tracks.
I arrive at the meal, your words make me gag.
)
Em 1944, Sebastian Brant, autor da Nave dos Loucos, nave com 112 casos de loucura, punha na boca do primeiro embarcado as seguintes palavras, e peço perdão por me atrever outra vez a traduzir:

Se nesta nave sou o primeiro
por razão especial isso é assim,
Sim, sou o primeiro aqui como vêm
Porque amo a minha biblioteca
De livros esplêndidos que possuo sem fim,
Mas que poucos compreendo;
Estimo livros de várias idades
E afasto as moscas das suas páginas.
Onde há arte ou ciência
Eu digo: em casa sou mais feliz,
Nunca estou mais satisfeito
Que quando os meus livros estão perto.
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(If on this ship I’m number one
For special reasons that was done,
Yes, I’m the first one here you see
Because I like my library.
Of splendid books I own no end,
But few that I can comprehend;
I cherish books of various ages
And keep the flies from off the pages.
Where art and science be professed
I say: At home I’m happiest,
I’m never better satisfied
Than when my books are by my side.)

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Um cabotino perfeito!...
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O RIO DA MINHA ALDEIA

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ENORME EDIFICAÇÃO URBANA

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PUNTA DELLA DOGANA.

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Era o Anno Domini 1937, ainda eu não tinha nascido, quando um casal judeu de Viena, de apelido Graf, comprou uma pintura do Século XVIII com o Grande Canal de Veneza e a Punta Della Dogana em fundo. O quadro passou a ser o orgulho da sua sala de estar.
Um ano depois, a Alemanha do Adolfo anexou a Áustria e os Graf, com duas filhas gêmeas, deixaram o País, primeiro para França, depois para Espanha e Portugal e, finalmente, para Nova Iorque. Quando "assentaram", todos os seus bens haviam sido arrestados pelos nazis, incluindo o quadro da Punta Della Dogana.
Após 70 anos passados a batalhar para o recuperar, os seus herdeiros conseguiram agora — depois de negociações complicadas — chegar a acordo com os actuais proprietários cuja identidade não é do conhecimento público — não sou eu. Entretanto a Sotheby’s de Londres, que o vai leiloar, atribui-lhe um valor entre 650 mil e 905 mil dólares. Pena ter tido recentemente algumas despesas domésticas que me impedem de o comprar. Não fosse isso, estava garantido no meu living!
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FATIAS DA OUTRA BANDA

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JARDIM SUSPENSO DA LALIBÓNIA

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sábado, 27 de maio de 2017

OS GRANDES VELEIROS

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UM CAMINHO COM GENTE ESTRANHA PERTO DE MIM

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...EH...EH...EH...
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JOHAN SEBASTIAN BACH

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Suite nº 3 para violoncelo

Toca Yo-Yo Ma
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(As imagens são o "pão nosso de cada dia" deste mundo que é o nosso)
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O CALADO É O MELHOR

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A confiança é mais vezes fruto da ignorância que do conhecimento.
Charles Darwin in The Descent of Man (1871)
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Como é do conhecimento geral, o sumo de limão diluído em água dá para improvisar "tinta invisível". Depois de escrever com tal mistela e deixar secar, não se vê nada no papel, a menos que este seja aquecido, por exemplo, com a chama duma vela, sem o queimar — ponto.
Em 1995, um "crânio" de Pittsburgh, EUA, de seu nome McArthur Wheeler, assaltou dois bancos em plena luz do dia, com a cara destapada, fazendo questão de sorrir em frente das câmaras de vigilância antes de sair. Preso umas horas depois e confrontado com os filmes dos assaltos, exclamou surpreendido: mas eu usei sumo de limão na cara!
Este é um exemplo padrão do "burro encartado", "calhau com olhos", "do que seria um Stradivarius se a estupidez fosse música" e por aí fora. 
Todos conhecemos o espécimen, estamos habituados, alguns estão no Governo, outros no Parlamento e, em face disso, perguntar-se-á a que propósito vem a conversa. Naturalmente, não vou falar de Jerónimo, ou das políticas patrióticas de esquerda, nem de Carlos César. Vou falar de David Dunning, da Universidade de Cornell, EUA, e do seu colaborador Justin Kruger, doravante referidos como Dunning/Kruger.  
Dunning/Kruger fizeram vários estudos do que chamaram "confiança ilusória", que habita no crânio de quase todo o mundo — até no dos pessimistas — em percentagem variada, naturalmente. O interessante e original fruto do trabalho é que a "confiança ilusória" é tanto maior, quanto maior é a "burrice" do confiante, seja qual for o método de medir essa "burrice": aproveitamento escolar,  competência profissional, progressão numa carreira, etc. — nunca falha.
Portanto, e esta é a "moralidade" da história de Dunning/Kruger, cuidado com gente que sabe tudo, facilmente identificada porque, em regra, fala muito. O calado é o melhor — Vox populi vox Dei — e não há nada "como realmente. Fica o aviso.
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SER FAROLEIRO

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DÉCIMA SÉTIMA HORA

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FASTNET RACE

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Bonita imagem dos iates participantes na Fastnet Race rumando ao Canal da Mancha
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Um veleiro próximo da Fastneck Rock, na regata de 2005 
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(imagens do The New York Times)
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ARTE ANTROPOPITECA

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Há quem goste...
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sexta-feira, 26 de maio de 2017

O FADO É QUE EDUCA

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Bem bonito!...
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UMA PAISAGEM URBANA

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EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO — A 8ª MARAVILHA DO MUNDO

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A sonda Juno da NASA foi lançada no dia 5 de Agosto de 2011. Depois de pouco mais de uma "volta" elíptica  completa em torno do Sol, passando "por fora" das órbitas de Mercúrio e Venus, mas " por dentro" da órbita da Terra, avançou  para Júpiter, chegando muito próximo dele e para além dele, em 4 de Julho de 2016, há quase um ano uma viagem colossal.
Voltará mais vezes à proximidade deste planeta depois de órbitas elípticas, de 53 em 53 dias. Entretanto já tirou muitos "retratos" ao planeta e às suas auroras, motivo de grande interesse para os astrofísicos, eles lá sabem porquê. Eu não sei, nem sequer sei se tenho cabeça para saber. É a vida...
Mas a fotografia "animada",  à direita, é da emissão de radiação infravermelha, o que significará, penso eu de que, ainda há algum calor em Júpiter (eventualmente há muito e a minha admiração é careca).
A outra fotografia, ao lado, feita a 32.000 milhas de altitude e que parece um pastel de Belém, é do Polo Sul de Júpiter e todas aquelas "caracoletas" ovais diz quem sabe são ciclones, vejam lá! Aquilo é mais "ventoso" que a Praia da Caparica em tarde de "nortada"!
A parte triste da história é que, um dia, a sonda Juno, tal como a Cassini em Saturno, entrará na atmosfera de Júpiter, incendiar-se-á e ficará reduzida a pó — do pó da Terra vieste e... ao pó de Júpiter voltarás, ou coisa do género.
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