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Torrada pelo sol a face barbeada, de olhar vivo, gesto livre, porte nobre e seguro, bizarro, folgazão, hospitaleiro e comunicativo, o alentejano exprime no seu todo a grandeza um tanto austera do chão sobre que vive. Não é decerto um grego de Atenas, mas é um grego da Beócia. Os seus campos são um granel, os seus montados um viveiro. Quando nas longas e alinhadas estradas, entre lençóis de matas de azinho escuro, sob o calor de um sol dardejante, divisamos ao longe uma pequena nuvem de poeira, que a luz ilumina, e ouvimos o tilintar alegre das campainhas e guizos nas coleiras dos machos - é o caseiro, que a trote largo, com a cara redonda e alegre, o ventre apertado nos seus calções de briche preto, vai á feira de Vila Viçosa em Maio, ou á de Évora em Junho, tratar dos negócios da lavoura. À distância, vem o arreeiro no seu carro toldado, guiando a récua de machos carregados de odres de vinho: logo o pastor com o guarda-mato de pele de cabra, o cajado ao ombro, conduzindo as ovelhas, a vara de porcos, gordos como texugos, ou a boiada loura de longas hastes. O sol ardente dá tom a todas as cores, vida a todos os movimentos: sufoca-se, a poeira cega, e as bagas de suor camarinham na testa. O alentejano diz pouco, e raro canta; não é misantropia, é indiferença. O idílio não pode seduzir a quem vive em ampla comunhão com o campo largo, o céu sempre azul, o sol sempre em fogo. Apenas, de Verão, baila ao som da guitarra nas noites calmosas, fazendo a vigília aos seus santos favoritos, não para esquecer um trabalho que lhe não dói, mas para dar largas aos seus amores de um momento.
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In "História de Portugal"
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