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Paulo Macedo foi Director-Geral dos Impostos, e um dos mais competentes. Pôs fim a muita pouca vergonha fiscal neste País, mas isso não evitou críticas; por exemplo de que, com tanto rigor no fisco, prejudicou a economia.
Paulo Macedo é agora Ministro da Saúde e começou logo a receber críticas, ainda antes de fazer o que quer que fosse; ainda antes de abrir a boca. Um deputado ilustre do Bloco de Esquerda, mal se conheceu o elenco do governo, declarou em directo na TV que um cobrador de impostos na pasta da Saúde significava seguramente mais encargos para os chamados “utentes”.
Neste paraíso lusitano, oposição significa obrigação de dizer não, ou sim, ou antes pelo contrário. Qualquer coisa serve e é adequada desde que seja desacordo. Paulo Macedo, porém, é homem avisado: hoje, em Viana do Castelo, declarou que não se move por uma execução cega pelos números no Serviço Nacional de Saúde, que é para preservar, mas que será indiferente ao ruído sobre as reformas. Assim deve ser. Mas vai encontrar dificuldades políticas com tal posição, susceptível de desencadear resistências inesperadas dentro do próprio lado que apoia o governo, onde há muito interesse instalado no caos chamado Serviço Nacional de Saúde.
A força política necessária para impor em casa medidas impopulares é enorme. Maior que a necessária para as impor a outros. Muita boa intenção governativa neste País morreu às mãos dos próprios correligionários, de supostos compagnons de route. Paulo Macedo é sábio, corajoso, sabe bem o que quer e pode ter êxito num dos mais difíceis ministérios desta terra, com um défice orçamental no ano passado de 450 milhões de euros. Lida com lóbis poderosíssimos, politicamente policromos. Agora, além das outras qualidades, tem de mostrar arcaboiço político para aguentar a refrega doméstica.
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