Já lhe aconteceu, muito
provavelmente, pôr um pé—talvez os dois—em cima de um cagalhão do cão que o seu
vizinho faz o favor de levar à rua para se aliviar e o presentear com esse tipo
de piso macio e aveludado. É uma tradição cultural que vem de longe e é bom que
não se extinga assim de repente. Aliás, com história, como vou explicar.
No tempo dos transportes
de tracção animal, era comum as ruas das grandes cidades estarem decoradas com
abundantes figos das cavalgaduras de tiro, coisa banal e até apreciada pelo ar
campestre que dava às urbes. Nessa época, cagalhão de cão era minudência. Com a
chegada dos carros a motor, autocarros, eléctricos, comboios e por aí além, os
figos e a bosta foram-se e ficaram os cagalhões caninos a dominar no campo dos
excrementos urbanos. Nada que não fosse útil; mesmo factor económico. Por exemplo, no Século
XIX, em Paris, havia profissionais da colheita de merde de chien. Percorriam a cidade enchendo sacos da dita que
vendiam a mégissiers para
curtir pele de ovelha. Dez quilogramas da dita merde chegavam para tratar 12.000 peles
ovinas.
Mas, pelos anos 20 do Século
passado, os médicos e uns tantos janotas de olfato mais delicado começaram a
implicar com o valor económico da merde de chien e o abastecimento dos
curtidores foi-se abaixo. O que era riqueza virou trampa. Mal feito!
Em Lisboa, passou-se o inverso:
merda de cão é o que mais há nas ruas, mas faltam os curtidores que a usem. A
maior parte dos curtidores actuais preferem a ganza, o ecstasy, o cavalo ou a castanha. Outros tempos, modas novas. É a vida!
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