segunda-feira, 24 de abril de 2017

EU PECADOR ME CONFESSO

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No principio deste mês transcrevi parte de um texto de António Barreto e, a páginas tantas, comentei assim:

[...] A Sociologia de Barreto é de carregar pela boca, como os canhangulos dos turras. E é pena porque Barreto tem cabeça para ser um homem superior. MAS NÃO É!!!... É PRECONCEITUOSO. [...]

Todos temos dias de estar avinagrados e esse era um dos meus. Apesar do que escrevi, considero Barreto um dos principais pensadores políticos deste País, mesmo não gostando de futebol. E resolvi dizer isto depois de ler hoje uma sua entrevista aqui.  Dela destaco a seguinte passagem — muito boa!

[...]

P: Compreende as críticas que nos fazem, algumas diretamente dirigidas, como a do Ministro das Finanças, Schäuble, e outras indiretamente, como as do ministro das Finanças holandês, Dijsselbloem. E a nossa reacção?

R: Não compreendo. Junto a minha voz à de tanta gente que acha que são uns parvalhões, presunçosos e arrogantes. Dito isto, o que eu percebo melhor num conjunto de entidades e autoridades europeias relativamente a Portugal, foi a péssima sensação que demos de que Portugal exige ter dívidas e exige que eles estejam calados e nos emprestem o dinheiro de que precisamos.

P: E quem é que transmitiu essa perceção? Foi a primeira fase deste Governo de António Costa?

R: Foi toda a esquerda e acho que uma parte do PSD. É uma atitude muito generalizada. No Parlamento Europeu é frequente ver votos em que participam quase todos juntos pela nossa nacionalidade e não pelo partido, ideologia ou doutrina. Acham que estão a defender Portugal e que os credores deviam ter uma atitude diferente em relação a Portugal. Eu também acho que nós não vamos conseguir pagar a nossa dívida a 100% e que alguma coisa vai ter que acontecer nos próximos anos. O volume é tal e com os juros altos, Portugal já pagou várias vezes o que deve. Mas isto só acontece quando se está de boa saúde. Não acontece quando se está em baixo. Dever dinheiro como nós devemos é quase um princípio de escravatura. Fico sempre espantado e surpreendido com a esquerda que aceita que o dever não é grave, não é um problema, porque podemos dever e temos direito a isso. Nunca consegui perceber porquê que a esquerda pensa isto assim.

P: Mas a esquerda defende sobretudo um perdão de dívida ou uma reestruturação da dívida. O Bloco de Esquerda é mais moderado quando não está com as câmaras ligadas.

R: O perdão de dívida vai dar ao mesmo: nós temos direito a dever dinheiro por isso não pagamos. Ficamos muito felizes e não pagamos. Quem deve fica prisioneiro e nós vamos ficar muitos anos prisioneiros dos nossos credores.

P: Isto não foi responsabilidade das elites que se apropriaram do futuro?

R: Foi.

P: Acha que as nossas elites são responsáveis?

R: Acho que sim. Só não alinho com algumas pessoas que dizem que “o povo é bom e as elites são más”. É proporcional. O povo é tão bom como as elites e as elites são tão boas como o povo. O que têm de bom está bem distribuído, o que têm de mau também está muito bem distribuído.


[...]
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