No
principio deste mês transcrevi parte de um texto de António Barreto e, a
páginas tantas, comentei assim:
[...] A Sociologia de Barreto é de carregar pela boca, como
os canhangulos dos turras. E é pena porque Barreto tem cabeça para ser um homem superior.
MAS NÃO É!!!... É PRECONCEITUOSO. [...]
Todos temos dias de estar avinagrados e esse era um dos meus.
Apesar do que escrevi, considero Barreto um dos principais pensadores políticos
deste País, mesmo não gostando de futebol. E resolvi dizer isto depois de ler
hoje uma sua entrevista aqui. Dela destaco a seguinte passagem — muito boa!
[...]
P: Compreende
as críticas que nos fazem, algumas diretamente
dirigidas, como a do Ministro das Finanças, Schäuble, e outras indiretamente,
como as do ministro das Finanças holandês, Dijsselbloem. E a nossa reacção?
R: Não compreendo. Junto a minha voz à
de tanta gente que acha que são uns parvalhões, presunçosos e arrogantes. Dito
isto, o que eu percebo melhor num conjunto de entidades e autoridades europeias
relativamente a Portugal, foi a péssima sensação que demos de que Portugal
exige ter dívidas e exige que eles estejam calados e nos emprestem o dinheiro
de que precisamos.
P: E quem é
que transmitiu essa perceção? Foi a primeira fase deste Governo de António
Costa?
R: Foi toda a esquerda e acho que uma
parte do PSD. É uma atitude muito generalizada. No Parlamento Europeu é
frequente ver votos em que participam quase todos juntos pela nossa
nacionalidade e não pelo partido, ideologia ou doutrina. Acham que estão a
defender Portugal e que os credores deviam ter uma atitude diferente em relação
a Portugal. Eu também acho que nós não vamos conseguir pagar a nossa dívida a
100% e que alguma coisa vai ter que acontecer nos próximos anos. O volume é tal
e com os juros altos, Portugal já pagou várias vezes o que deve. Mas isto só
acontece quando se está de boa saúde. Não acontece quando se está em baixo.
Dever dinheiro como nós devemos é quase um princípio de escravatura. Fico
sempre espantado e surpreendido com a esquerda que aceita que o dever não é
grave, não é um problema, porque podemos dever e temos direito a isso. Nunca
consegui perceber porquê que a esquerda pensa isto assim.
P: Mas a
esquerda defende sobretudo um perdão de dívida ou uma reestruturação da dívida.
O Bloco de Esquerda é mais moderado quando não está com as câmaras ligadas.
R: O perdão de dívida vai dar ao mesmo:
nós temos direito a dever dinheiro por isso não pagamos. Ficamos muito felizes
e não pagamos. Quem deve fica prisioneiro e nós vamos ficar muitos anos
prisioneiros dos nossos credores.
P: Isto não
foi responsabilidade das elites que se apropriaram do futuro?
R: Foi.
P: Acha que as
nossas elites são responsáveis?
R: Acho que sim. Só não alinho com
algumas pessoas que dizem que “o povo é bom e as elites são más”. É
proporcional. O povo é tão bom como as elites e as elites são tão boas como o
povo. O que têm de bom está bem distribuído, o que têm de mau também está muito
bem distribuído.
[...]
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