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Há um ano, em conversa com o psicólogo evolucionista Steven
Pinker, perguntei-lhe: "Se muitas formas de violência e crueldade que eram
toleradas há um século, como a escravatura, o trabalho infantil, a caça dos
ursos etc., estão hoje fora de questão, que práticas actuais veremos com horror dentro de duas ou três gerações?"
É fácil responder, disse: comer carne — um dia, as pessoas
olharão para trás, para a criação de animais para abate, e acharão tal prática
uma barbaridade.
Por ano são abatidas 60 mil milhões de galinhas, 1,5 milhares
de milhões de porcos, mil milhões de ovinos e 300 milhões de vacas; e a
tendência é para estes números aumentarem.
Assim começa um artigo de Matt Ridley publicado hoje no The Times.
Em boa verdade, começa a haver sinais do que Pinker fala quando vemos
o número crescente de vegetarianos que atazanam a cabeça dos omnívoros, de
militantes contra as quintas-fábrica, dos que condenam a produção de foie-gras e por aí fora. O lobby pró bem-estar dos animais é cada
vez maior e mais influente. Uma organização cujo nome podemos traduzir por "Compaixão
pelos Crustáceos" (Crustacean
Compassion) faz agora campanha para a protecção da lagosta e do caranguejo,
a serem incluídos numa disposição chamada qualquer coisa como "Lei do
Bem-Estar Animal".
Sei que o referido faz sorrir quem lê esta prosa "dolicocéfala",
mas tal é manifestação de ingenuidade. Já pensou no tempo em que havia luta de galos
em Timor Lorosae, por exemplo (não sei se ainda há, mas deve ter acabado); e um
divertimento que consistia em amarrar um gato com uma corrente e, com as mãos
amarradas atrás das costas, tentar matá-lo à cabeçada, evitando ser arranhado
pela unhas afiadas do pobre felino; e nas touradas que têm os dias contados?
Já pensou? Então vá-se habituando à ideia de ao Sábado, ou ao
Domingo, sair com a família e ir ao Parque das Nações comer numa esplanada
empadão de milho, pasta de proteína vegetal assada no forno, ou bife de
raspas de casca de eucalipto! Ria, ria, que depois falamos...
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