sexta-feira, 28 de abril de 2017

PUXAR A CHINELA PARA O PÉ

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Já aqui falei de João Lemos Esteves, que não conheço de lado nenhum — nem da tropa!—, jovem que escreve bem e gosta de "malhar" na esquerda, talqualmente Santos Silva "malha" na direita; e "malha" onde dói, o que enfurece os canhotos.  Escreve no "Sol" e há dois dias, um depois do "dia maior", escreveu assim, sob o título Marcelo, o nacionalista-comunista? What? : 

1. Marcelo Rebelo de Sousa cumpriu a tradição: o Presidente da República deslocou-se à Assembleia da República para proferir o discurso de evocação do 25 de Abril de 1974. Desta feita, não levou cravo na mão, nem na lapela – apenas pegou a dita flor simbólica do “primeiro dia do resto da vida de Portugal" à saída da (tida como) casa da democracia portuguesa.

2. É uma evolução do Presidente Marcelo face ao comentador Marcelo que nos acompanhou durante mais de uma década: nos últimos anos do Presidente Cavaco Silva, na TVI, Marcelo criticou o formato tradicional das comemorações do 25 de Abril, denunciando um evidente desfasamento entre a elite política e o povo.
Ontem, no entanto, Marcelo já veio afirmar que, afinal, faz sentido realizar a sessão solene no Parlamento, ainda que distante do tal “povo”. Ai, que saudades do comentador Marcelo!

3. Dito isto, muitos analistas limitaram-se a concluir que o discurso de Marcelo serviu para elogiar o trabalho da actual maioria, apelar e puxar pela social-democracia (Marcelo é o verdadeiro social-democrata, ui, ui!) – mas, simultaneamente, distanciar-se em áreas específicas da governação para ter margem de manobra para intervir no futuro.
Quanto à frase emblemática em que Marcelo apela ao “nacionalismo mas patriota” (what? Nacionalista mas patriota…mas que raio é isto?), os comentadores desvalorizam esta frase, dizendo que é Marcelo a apelar…à transparência pública!

4. Muito bem: Marine Le Pen quando se afirma nacionalista, na verdade, o que pretende é tão só a transparência da vida pública. Registamos: não percebemos então por que razão estes comentadores do regime e do politicamente correcto (os mesmos de sempre!) manifestam depois imensa preocupação com a vitória de Le Pen por esta ser a candidata nacionalista…Afinal, não querem transparência na vida pública?

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Marcelo, e agora digo eu, é um homem perigosamente inteligente, mas nem só de inteligência se faz um político. Mais que dela, precisa o político de senso comum que, por exemplo, Trump também não tem; de total ausência — pelo menos aparente — de imposturice, um dos "fortes" de Marcelo; de modéstia, que não é ir engraxar os sapatos ao Largo Visconde da Luz acompanhado do fotógrafo, ou comer pataniscas de bacalhau ao balcão duma tasca qualquer; e de um nadinha de sentido de Estado para perceber que o cidadão Marcelo não vai tomar banho à Praia dos Pescadores em Cascais, regressando a casa descalço, se está investido nas funções de Presidente da República.
Marcelo é um mito, naturalmente muito popular porque gosta de ouvir que "lhe puxa o pé para a chinela"; mas, na realidade, um homem vaidoso e, como todo o vaidoso, perigoso. Mais ainda porque é um vaidoso inteligente, hiperactivo e com uma atracção mórbida pela ribalta. 
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