sábado, 15 de abril de 2017

O SABER CUSTA CARO

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Os aceleradores de partículas são enormes laboratórios onde físicos curiosos lançam partículas a velocidades enormes, mais que a de Marcelo, quase igual à da luz, em sentidos opostos. De vez em quando, põem umas na contra-mão e o choque é inevitável — o Código da Estrada não lhes interessa. Querem é saber o resultado das colisões, ou seja, que tipo de "cacos" resultam, pois esses "cacos" são seguramente constituintes das partículas acidentadas, constituintes que não conhecem e pretendem conhecer. Há quem tenha outras curiosidades, mas a deles é esta!
As partículas usadas não são sempre as mesmas, mas as mais utilizadas — segundo penso — são os protões, residentes habituais  nos núcleos atómicos. O maior acelerador de partículas do mundo, como se sabe, é o do CERN, localizado perto de Genebra e da fronteira da Suíça com a França. Está 175 metros abaixo do nível do solo e tem 27 km de comprimento. Foi lá descoberta a "partícula de Deus", ou bosão de Higgs, não há muito tempo.
Protões a circular quase à velocidade da luz, como se pode antecipar, são um perigo; em boa verdade, um perigo teórico porque nunca ninguém meteu a cabeça lá dentro com a geringonça a funcionar — pelo menos deliberadamente e já explico porque digo isto. 
Os protões até são usados na Medicina para destruir tumores, por exemplo. mas a energia desses protões é inferior a 250 milhões de electrovolts (não interessa o que é o electrovolt) e a energia dos protões nos aceleradores de partículas é da ordem dos 76 mil milhões de electrovolts! Um perigo com risco calculado versus vantagem para a investigação científica.
Infelizmente, no dia 13 de Julho de 1978, o físico soviético Anatoli Bugorski meteu a cabeça no acelerador de partículas U-70 Synchroton, o maior da União Soviética, e devido a uma falha na segurança, um feixe de protões "atravessou-lhe" a cabeça, quase à velocidade da luz. Nunca um ser humano se tinha exposto a tal coisa. E embora  um neuro-cientista chamado Ramachandran tenha dito um dia  com mau gosto neste caso  que um porco a falar não prova que os porcos possam falar, a verdade é que o pobre Bugorski não se deu bem com electrões "Fórmula 1". Passados 39 anos, está vivo , mas tem metade da face paralisada, está surdo de um ouvido, e já teve seis episódios de convulsões tónico-clónicas, como observadas em doentes com grande-mal epiléptico, e crises de ausência, do tipo do pequeno-mal epiléptico. Mas intelectualmente está bem, fez entretanto um doutoramento — não sobre azar, mas sobre Física de partículas — e, sobretudo, ainda não teve um cancro. Alguma coisa tinha que correr bem, embora nestas situações, habitualmente, se as coisas podem correr mal, correm mal!
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