Ler livros é tido em muitos
círculos como uma manifestação de qualidade intelectual de quem os lê. Sempre foi assim — ou quase
sempre.
O livro é o ícone da intelectualidade, mesmo na era em que tudo está disponível
na Net, com possibilidade de
ler em paralelo textos diferentes, de os guardar em ficheiros independentes
ou comuns, de consultar facilmente dicionários ou enciclopédias para tirar
dúvidas, de procurar imagens relativas à matéria, blá, blá, blá. Não critico
quem lê e gosta de livros, mas quem os usa
para se "dar ares" — ponto.
Já no tempo da antiga
Roma havia disso. O livro era "impingido", literalmente. De
acordo com Martial, escritor satírico romano, o panorama era como segue, sendo que a
tradução pode atraiçoar o leitor (faço o melhor que sei):
Lês para mim quando
estou em pé, lês para mim quando me sento,
Lês para mim quando
corro, lês para mim quando cago.
Fujo para os banhos, sopras-me
nas orelhas.
Vou para a piscina, não
me deixas nadar.
Apresso-me para jantar,
atravessas-te no meu caminho.
Chego à comida, as tuas
palavras entopem-me.
(You read to me as I stand, you
read to me as I sit,
You read to me as I run, you read to me as I shit.
I flee to the baths; you boom in my ear.
I head for the pool, you won’t let me swim.
I hurry to dinner, you stop me in my tracks.
I arrive at the meal, your words make me gag.)
You read to me as I run, you read to me as I shit.
I flee to the baths; you boom in my ear.
I head for the pool, you won’t let me swim.
I hurry to dinner, you stop me in my tracks.
I arrive at the meal, your words make me gag.)
Em 1944, Sebastian
Brant, autor da Nave dos Loucos, nave
com 112 casos de loucura, punha na
boca do primeiro embarcado as seguintes palavras, e peço perdão por me atrever outra vez a traduzir:
Se nesta nave sou o primeiro
por razão especial isso é assim,
Sim, sou o primeiro aqui como vêm
Porque amo a minha biblioteca
De livros esplêndidos que possuo sem fim,
Mas que poucos compreendo;
Estimo livros de várias idades
E afasto as moscas das suas páginas.
Onde há arte ou ciência
Eu digo: em casa sou mais feliz,
Nunca estou mais satisfeito
Que quando os meus livros estão perto.
.
(If on this ship I’m number one
For special reasons that was done,
Yes, I’m the first one here you see
Because I like my library.
Of splendid books I own no end,
But few that I can comprehend;
I cherish books of various ages
And keep the flies from off the pages.
Where art and science be professed
I say: At home I’m happiest,
I’m never better satisfied
Than when my books are by my side.)
.
Um cabotino perfeito!...
For special reasons that was done,
Yes, I’m the first one here you see
Because I like my library.
Of splendid books I own no end,
But few that I can comprehend;
I cherish books of various ages
And keep the flies from off the pages.
Where art and science be professed
I say: At home I’m happiest,
I’m never better satisfied
Than when my books are by my side.)
.
Um cabotino perfeito!...
.
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