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Em carta de 22 de Agosto de 1883, da Rainha Vitória para a neta, Princesa Vitória de Hesse:
Alertar-te-ia contra o tentar descobrir a explicação de tudo... Tentar encontrar a razão de tudo é muito perigoso e não dá senão desapontamento e insatisfação, intranquilidade, fazendo-te por fim infeliz.
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Jim
Holt é um filósofo americano, ensaísta, colonista do The New York Times, do New
Yorker, do London Review of Books
e autor de vários livros, dos quais o
mais conhecido será o Why Does the World Exist?
Deste, que vale a
pena ler porque escrito em linguagem clara, numa edição Kindle (on
line) sobre a origem do Universo, destaco o seguinte passo em que põe o
problema implícito no título.
O problema com a opção científica parece ser o seguinte. O Universo compreende tudo que fisicamente existe.
O problema com a opção científica parece ser o seguinte. O Universo compreende tudo que fisicamente existe.
Uma explicação científica
deve envolver qualquer tipo de causa física. Mas toda a causa física é, por
definição, parte do Universo a ser explicado. Assim, qualquer explanação
científica da existência do Universo está fadada a ser "circular". Mesmo
que comece com qualquer coisa, mínima que seja — um "ovo" cósmico,
uma pequena parte de vácuo quântico, uma singularidade — começa com qualquer
coisa, não com nada. A ciência pode ser capaz de traçar como o Universo
actual evoluiu duma realidade física remota, indo atrás, até ao Big Bang. Mas, em
última análise, esbarra numa parede pois não penetra no estado físico anterior,
o nada. Isto é, pelo menos, a base principal em que os defensores de Deus se apoiam.
Historicamente, quando a Ciência se mostrou incapaz de explicar um fenómeno natural, os crentes foram
sempre prontos a invocar
o Artífice Divino para
preencher a lacuna — embaraçados apenas quando a
Ciência,
posteriormente, a preenchia. Newton, por exemplo, achava que Deus era
necessário para, de tempos a tempos, fazer ajustes nas órbitas dos planetas a
fim de não chocarem. Mas, um século mais tarde, Laplace provou que a Física era
capaz de explicar a estabilidade do Sistema Solar. Quando Napoleão perguntou a
Laplace onde estava Deus no seu esquema celestial, Laplace, alegadamente, terá
respondido: "Não tive necessidade dessa hipótese".
Mais recentemente, crentes religiosos têm
defendido que a selecção natural cega, só por si, não pode garantir a emergência
de organismos vivos complexos e, portanto, Deus deve estar a "guiar" o
processo evolutivo — ponto de vista veementemente contestado por ateus militantes,
como Dawkins e outros darwinistas. Tais argumentos, de um Deus "tapa buracos", envolvido em
minúcias biológicas e astrofísicas, diz ele, tendem a rebentar nas bochechas
dos religiosos que os invocam. E acrescenta: "Mas esses crentes sentem-se
tranquilos e seguros perante a questão: Porque há tudo o que há em vez de nada?
— o que também é verdade e uma pergunta
a que Dawkins não sabe responder.
Um dia, falarei sobre essa coisa da expressão "Haver nada", o que soa um nadinha a
contradição. É "haver nada"
uma contradição? Vou pensar melhor; depois digo, se chegar a alguma conclusão.
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