Mas, do ponto de vista biológico, a actividade que alimenta
a nossa voracidade é uma excepção na vida animal. A evolução tem dotado as
presas tradicionais de meios para se defenderem. Por exemplo, à medida que os predadores carnívoros correm mais, também elas se tornam mais rápidas. Os carnívoros
desenvolvem dentes fortes e perfurantes, e os herbívoros aparecem dotados de
chifres para se defenderem. Também o aumento do porte impede a eficácia dos
felinos – o volume do bisonte torna a sua caça difícil porque a boca do
predador não tem dimensão para o seu pescoço. Alguns carnívoros caçam em grupo
e os herbívoros defendem-se e passam a viver em manada. Mas, curiosamente,
contra o homem não se observa nenhuma evolução clara de modo a tornar as suas
vítimas mais seguras. Pelo contrário, em certos casos, como o elefante, as presas
defensivas tornam-no mais atraente para o homem que busca o marfim.
Esta falta de adaptação à defesa contra o predador
homem/bicho intriga os investigadores. Nem as defesas mais engenhosas, como a
produção de substâncias tóxicas, tem eficácia se o homem tem apetência para a
espécie. Alguns caranguejos, embora muito saborosos, contêm compostos de
paladar repugnante. Mas o homem já percebeu que tais substâncias se acumulam
apenas em certos órgãos que remove, permitindo-lhe saborear o banquete.
Em termos de evolução, as presas do homem não têm espaço de
manobra. Segundo o Prof. Vermeij, especialista nestas coisas, tal representa um
desvio cataclísmico para as espécies vítimas cuja importância só agora começamos
a perceber.
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