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“Correlação não é causa” constitui um princípio científico
simples e bom para reflectir. Como deve ser encarada a correlação em termos de causa/efeito?
Por exemplo, quando se vê o relâmpago, espera-se o trovão porque este é causado
pela descarga eléctrica. Neste caso, α provoca β – há causa/efeito na
correlação.
Mas suponhamos que numa estatística quem trata melhor as
unhas (α)
vive mais anos (β). É α causa de β? Está a ver-se que não. Provavelmente
porque quem cuida mais das unhas são as mulheres e as mulheres vivem mais que
os homens por outras razões. Aqui, α não causa β porque α e
β
são causados por ϒ.
O aumento da velocidade dos movimentos das moléculas num
corpo (α)
acompanha-se de aumento da temperatura do corpo (β). É α que causa β?
Não é. α
e β
são a mesma coisa. A radiação electromagnética (α) acompanha-se da emissão de
luz (β).É α que
causa β?
Não – α
e β
são também a mesma coisa.
Tratámos de exemplos mais ou menos “carecas” e, por isso,
simples. Mas nem sempre as coisas são tão claras. Em ciência de grande fôlego,
o problema é às vezes complicado. Pegando numa matéria da ordem do dia e muito
mastigada, falemos do aquecimento global. Há aumento do CO2 na atmosfera (α) e
há aumento da temperatura do planeta (β). É α a causa de β? Talvez sim, talvez
não! Quem sabe? Pode acontecer que α e β sejam ambos efeito de ϒ, ou até ser α
causado por ϒ e β por δ! Blá, blá, blá... Uma trapalhada!
Deixemos as trapalhadas para quem gosta delas, neste caso os
cientistas, e vamos falar de nós. É que o referido aplica-se a tudo, incluindo
as coisas mais rotineiras da vida. O carro não pega de manhã e a bateria foi
substituída há uma semana; logo, quem montou a bateria, ou pôs lá uma velha, ou
não a instalou convenientemente. Raciocínio apressado porque há muitas outras
causas para o carro não pegar, incluindo o facto da bateria do cartão (se tiver
cartão) poder estar, ela sim, esgotada.
E, em matéria social, política, desportiva, etc., a probabilidade
de tomarmos a correlação como causa e efeito é enorme, especialmente quando há
um viés social, partidário, clubístico, e por aí fora; e há quase sempre. É a austeridade (α) causa da estagnação económica (β)? Ou são as duas consequência
da causa ϕ, ou seja, do Zézito que anda a pavonear-se em Paris? ... Desisto...
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