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Em 1962, Thomas Kuhn definiu o que se chama “paradigma
científico” como ‘conceito universalmente reconhecido correcto pela ciência e,
por isso, modelo para o trabalho de investigação’. O que cai fora do padrão paradigmático
é “anomalia”. Mas já na altura Kuhn admitia que
o paradigma pode ter prazo de validade, ou seja, é temporário.
Barry Marshall desafiou o “paradigma” médico da época, de
que a úlcera péptica, vulgarmente chamada ‘úlcera do estômago’, era provocada
pelo stress e pelo ácido, ao considerar uma bactéria do género Helicobacter
como responsável pela doença. Marshall teve toda a gente contra ele, mas também
tinha razão e a úlcera é hoje tratada com antibióticos.
Fred Griffith, muito antes da descoberta do ADN, veio
dizer ao mundo que ratos infectados com uma estirpe inofensiva do pneumococo,
sucumbiam se fossem depois injectados com uma estirpe de pneumococo virulento,
mas neutralizado previamente pelo calor; isto é, a segunda estirpe, tornada
inofensiva, era capaz de passar a capacidade agressiva à primeira, que matava
os ratos e a transmitia aos descendentes. Como não se sabia nada de ADN, a
observação de Griffith foi considerada uma “anomalia”, dado que a estabilidade
das espécies era irrefutável na época.
A teoria de Wegener, da deriva continental, segundo a
qual todos os continentes ‘descendem’ de um único supercontinente e navegaram
pela Terra para as actuais localizações, foi considerada uma “anomalia”,
apesar da linha de costa do Brasil encaixar muito bem na linha de costa de
África Ocidental e de se encontrar o mesmo tipo de fósseis em ambas. Só depois da
descoberta das placas tectónicas, a ciência abriu mão do “paradigma” oficial da
‘terra firme’.
Portanto, em ciência, como em quase tudo, o conhecimento
é verdade até se provar que está errado, o mesmo que dizer: é provisório. Mas
há um limite à abertura a novas teorias, ou “anomalias”. Experiências, como a
da ‘memória da água’ do homeopata Prof. Benveniste, ou a telepatia, deixam-nos
de pé atrás. Não é fácil ser prior duma freguesia assim, porque o que parece
bom senso agora pode vir a revelar-se ignorância daqui a uns anos. Portanto, além
de bom senso, como dizem os homens do futebol, é preciso muita humildade. É
verdade: muita humildade!
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quinta-feira, 26 de abril de 2012
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