A esquerda em Portugal - possivelmente em todo o mundo –
tem uma técnica argumentativa sui generis: quando mete o pé na argola – e quantas
vezes o faz! – arranja uma desculpa esfarrapada, repetida até à exaustão pelo comunicação
da cor e, a partir da 507ª repetição, a argolada é matéria tabu, insusceptível
de ser lembrada, sob pena de ser isso considerado matéria mesquinha e
manifestação de falta de grandeza da alma. É o miserabilismo, o salazarento, o reacionário,
o obscurantismo, no mínimo.
Soares, o incontornável Soares dos 199km à hora, diz que
Portugal está a vender as joias da coroa, referindo-se às nacionalizações, uma
das razões porque hoje não foi pavonear-se na Assembleia, com o cravo vermelho
ao peito. Mas Soares não diz que as joias da coroa se vão porque um governo
socialista, gerido por essa anedota socialista chamada Zezito, conduziu a
Pátria à falência, pediu auxílio aos mentores da economia de casino, e chegou com
eles ao acordo de nacionalizar as empresa que Soares diz serem as joias da
coroa.
Isto é, o que está subjacente à lamentável necessidade de
perder soberania, nacionalizar, mudar as leis do trabalho, alterar a
fiscalidade, aumentar os transportes, diminuir a qualidade do Serviço Nacional
de Saúde e por aí fora, não interessa; ou antes, não se pode falar sobre isso.
O que interessa é atirar trampa para cima dos outros. Falar disso é tabu, são
desculpas, é miserabilismo, é a reacção, blá, blá, blá.
Quando um Zezito, em seis anos, aumenta a dívida de 90 mil milhões para 160
mil milhões, está tudo a correr bem. Quando alguém aperta o cinto porque
ficámos falidos, está tudo a correr mal.
Tenho dúvidas que o actual governo seja grande espingarda.
É verdade. Mas peço aos socialistas esta coisa singela: por favor, mantenham-se
calados, ou dissertem sobre a fuga dos jactos para o Egipto.
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