.
Esopo é também ele uma fábula. Em boa verdade, parece que
não se sabe sequer se existiu, nem se tudo que lhe atribuem é dele. Mas se não
existiu, devia ter existido, porque é bene trovato. Hoje estive a ler fábulas
de Esopo e fiquei muito mais esclarecido. Diz-se, aliás, que os seus escritos
eram dirigidos aos adultos, disfarçados de conversa para crianças. Acho que sim.
Uma mulher velha e cega chamou o médico para a tratar,
com a condição de só lhe pagar se recuperasse a vista.
Aceites as condições, cada vez que o médico a visitava,
roubava-lhe qualquer coisa, até lhe levar tudo quanto tinha em casa. Depois de
ter o que queria, curou a mulher e pediu o pagamento acordado.
A velha, vendo a casa vazia, não pagou. O médico insiste,
o pagamento é negado, segue-se o recurso à autoridade. A mulher defende-se: “O
que este homem diz está certo. Combinámos que, se me curasse e ficasse a
ver, lhe pagaria; mas se não ficasse a ver, não pagava. Ele afirma que estou
curada mas, ao contrário, ainda estou cega; porque quando via, eu via a minha
casa cheia de coisas boas e valiosas. Agora, não vejo lá nada”.
Sem comentários:
Enviar um comentário