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Há problemas neste
mundo para que não há pachorra. Os especialistas chamam-lhes justamente
problemas “malvados”, expressão já consagrada internacionalmente:
wicked problems.
O que são
problemas “malvados”? A dificuldade começa aí – ninguém consegue defini-los! Ou
seja, nunca se sabe bem onde começam e onde acabam; não há maneira correcta de
os enquadrar; não há fórmulas; não há experiência anterior porque nunca houve
nada parecido – são únicos; muitas vezes, são sintomas de outros problemas,
também eles “malvados”; dependem de
vários responsáveis com perspectivas sobre eles diferentes, que cada um
considera a correcta; compreendem
situações interligadas, impossíveis de dissociar; o seu estudo, frequentemente,
revela novos problemas desconhecidos até aí; ninguém está muito interessado
em pegar neles porque o insucesso é quase certo; e são muitas vezes o ponto
final de carreiras profissionais porque
ninguém tem direito de estar errado, mesmo se o problema é “malvado”.
Exemplos? Há
vários, uns mais globais, outros menos. O mais típico dos primeiros, na
actualidade, é o do aquecimento global. Puf!... Em primeiro lugar, existe? Ou
não existe? Há teorias que são mais fés que teorias. É um problema, ou é o
sintoma de muitos outros problemas? Deve-se à produção em excesso de dióxido de
carbono pela humanidade? Diz-se que sim e que não. Se sim, porque produz a
humanidade tanto CO2? Porque a revolução industrial criou hábitos que exigem
muita energia. E que hábitos são esses e porque existem? São assim porque todos
têm direito ao conforto, à segurança social, à saúde, ao pópó, e por aí fora. E
se o aquecimento está a comprometer o futuro da Terra, o nosso único habitat
por enquanto, é legítimo deixar um mundo inabitável aos nossos descendentes
para vivermos no maior conforto? Alguma solução surgirá de modo a continuar a
viver como agora, ou ainda melhor. Qual solução? Logo se vê. Mas é
preciso mudar de vida. E quem muda de vida? Os países ricos que já encheram a
atmosfera de poluição para serem ricos, ou os países pobres que precisam de
viver como os ricos? Vão a Alemanha e os Estados Unidos diminuir a actividade
industrial e viver pior para darem margem de manobra poluente às nações pobres?
Blá, blá, blá.
O problema
existirá e é “malvado”. Mas tem de se começar por uma ponta qualquer e essa é a
dificuldade porque todos exigem que se comece pela ponta certa, embora não se
saiba qual é. Vamos lá pela
tentativa e erro talvez, mas os
puristas académicos acham isso
um nojo. Só começando por um palpite, sabendo toda a gente que é palpite e está
provavelmente errado. E que será necessária outra tentativa, e outra, e outra,
até começar a acertar. E que o problema vai mudando de configuração à medida
que se avança e carece duma abordagem pouco sistematizada, susceptível de
permitir andar às varadas. Em suma, não é possível perceber o problema para
depois o resolver – vai-se percebendo ao mesmo tempo que se procura a solução e
ninguém sabe quanto isso demora.
Falámos apenas dum
problema “malvado” global e clássico, para tornar as coisas mais claras. Mas
problemas desses, em menor escala, há às dúzias, às centenas, aos milhares. Que
o digam os autarcas. Nos transportes, no saneamento, no trânsito, na ordem pública,
nos pisos das vias, nos toxicodependentes, e por aí fora. Matéria excelente
para demolir um responsável, quase sempre de forma irresponsável. Temos de
viver com eles pacificamente e deixá-los constituir objecto de escárnio e maldizer.
A metodologia da solução nos problemas “malvados” é também ela um problema “malvado”!
sábado, 21 de abril de 2012
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