Quando se observa
o retalho da Península, de que a história fez Portugal, separado do corpo geográfico a
que pertence, desde logo se vê como a
vontade dos homens pôde sobrepujar as tendências da natureza. Os rios e
as serranias descem, perpendiculares sobre
a costa ocidental, prosseguindo
uma derrota e provindo de uma origem que se dilatam para muito além das
fronteiras, até ao coração do corpo
peninsular. As cumeadas das montanhas e os vales extensos mudam de nacionalidade naquele
ponto convencional que aos homens aprouve fixar.
Não falta, porém, quem pretenda encontrar, no nosso próprio território, motivos
determinantes da constituição
primordial da nação: tanto pode a obcecação doutrinária! Diz um que essa separação dos litorais é
uma regra; nega outro o carácter
arbitrário da linha das
fronteiras de leste, afirmando que essa linha coincide com os limites
extremos até onde os nossos rios são
navegáveis. Decerto nunca os viu
quem tal afirma. No Guadiana apenas se navega até Serpa, e entretanto o rio é português nas duas
margens até Monsaraz, formando a raia daí até Elvas. O Douro para cima da
Régua é tão navegável até Zamora
como até à Barca-d'Alva. No Tejo, passando Abrantes, tanto se vai até Alcântara, como até Aranjuez. Onde está pois a concordância da fronteira com a parte navegável
dos rios?
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Oliveira Martins in "História de Portugal"
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