segunda-feira, 23 de abril de 2012

TRECHOS ESCOLHIDOS

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AO REI DE PORTUGAL

Senhor. – Alguns malévolos, nossos comuns inimigos, espalham subtilmente que Vossa Majestade nos sacia de oiro, para que as Farpas conservem perante Vossa Majestade uma atitude curvada e risonha. Rogamos a Vossa Majestade se digne declarar se já deixou cair na nossa mão estendida – o seu corruptor metal! Vossa Majestade, com mal disfarçado despeito o dizemos, nem sequer é assinante das Farpas! Procedimento este que prova não ser inteiramente erróneo o que a história conta dos crimes da realeza.
Aproveitamos a ocasião de lembrar a Vossa Majestade que são esses actos que tornam odiosos os tiranos – e que, mais tarde ou mais cedo, erguem o desagradável cadafalso de Carlos I. Um rei que não assina as Farpas vai por um declive, ao fundo do qual tem de encontrar a chorosa vereda do exílio ou o gotejante corredor da masmorra. A recusa da assinatura merece a desforra da revolução! Cuidado! Em todo o caso, por hoje o que pedimos a Vossa Majestade é que declare, como é a intransigível verdade, que nunca Vossa Majestade passou para a nossa mão uma parte dos seus valiosos tesouros. –
Humildes vassalos.

À HIDRA DA ANARQUIA

Tendo alguns jornais dado a entender que nós atacávamos a realeza porque estávamos para isso pagos pela Hidra da anarquia – pedimos ao dito bicho que declare, publicamente, a falsidade desta asserção imunda.
Aceite, Sr.a Hidra, os protestos da maior consideração. – Os redactores das
«Farpas». 
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Eça de Queirós in "As Farpas"
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