AO REI DE PORTUGAL
Senhor. – Alguns
malévolos, nossos comuns inimigos, espalham subtilmente que Vossa Majestade nos
sacia de oiro, para que as Farpas conservem perante Vossa Majestade uma
atitude curvada e risonha. Rogamos a Vossa Majestade se digne declarar se já deixou
cair na nossa mão estendida – o seu corruptor metal! Vossa Majestade, com mal
disfarçado despeito o dizemos, nem sequer é assinante das Farpas! Procedimento
este que prova não ser inteiramente erróneo o que a história conta dos crimes
da realeza.
Aproveitamos a
ocasião de lembrar a Vossa Majestade que são esses actos que tornam odiosos os
tiranos – e que, mais tarde ou mais cedo, erguem o desagradável cadafalso de Carlos
I. Um rei que não assina as Farpas vai por um declive, ao fundo do qual
tem de encontrar a chorosa vereda do exílio ou o gotejante corredor da
masmorra. A recusa da assinatura merece a desforra da revolução!
Cuidado! Em todo o caso, por hoje o que pedimos a Vossa Majestade é que
declare, como é a intransigível verdade, que nunca Vossa Majestade passou para
a nossa mão uma parte dos seus valiosos tesouros. –
Humildes
vassalos.
À HIDRA DA ANARQUIA
Tendo alguns
jornais dado a entender que nós atacávamos a realeza porque estávamos para isso
pagos pela Hidra da anarquia – pedimos ao dito bicho que declare, publicamente,
a falsidade desta asserção imunda.
Aceite, Sr.a Hidra,
os protestos da maior consideração. – Os redactores das
«Farpas».
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Eça de Queirós in "As Farpas"
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