Fernando Belo, o filósofo de que já falei a propósito de um texto publicado há tempos no "Público" em defesa da homeopatia, volta
hoje "à carga" com outra peça, resposta a Carlos Fiolhais e David Marçal,
autores duma crítica ao texto mencionado.
Depois de mencionar que fez uma licenciatura em
Engenharia Civil antes de se tornar filósofo, o que aumenta a sua razão em
defesa do obscurantismo consubstanciado na homeopatia, Belo faz considerações históricas
sobre a relação entre a Filosofia e a ciência. Não chega a Demócrito e ao
átomo, mas anda lá perto, sem se perceber ao que vem tal conversa.
Argumenta em seguida que há "soluções empíricas de
questões que não se entendem teoricamente" e cita a máquina a vapor, só compreendida
teoricamente—com a termodinâmica—um século depois da descoberta. Aqui, Belo
começa a derrapar porque a máquina a vapor, embora não explicada teoricamente
pelos físicos, funcionava. A homeopatia nem tem explicação, nem funciona—é esse
o problema. Quando se aplicam regras correctas para aferir o efeito terapêutico
de qualquer prática, há umas que se mostram boas ou sofríveis e outras que não
prestam: é o caso da homeopatia que não presta. A homeopatia vive de histórias avulsas, ou seja,
da descrição de casos mal esclarecidos e contados, cujos resultados o são ainda menos, como o da queda de cabelo, que narra no
primeiro artigo, de uma sua familiar, sem que se perceba que alopecia era
aquela e qual foi o critério para avaliar o resultado terapêutico. Não sei se
Belo acredita em milagres, mas deve acreditar porque a maior parte deles são casos
semelhantes às curas da homeopatia.
Sai depois em defesa de Benveniste e serve-se duma prática
péssima em ciência, imprópria de quem—apesar de tudo—fez uma licenciatura em
Engenharia: o argumento de autoridade. Belo invoca Luc Montagnier, que ganhou o Nobel e defendeu Benveniste. Tal e qual! Aristóteles e Ptolomeu também
defenderam o geocentrismo. E ainda há quem acredite na Terra Plana. Fernando Belo lecciona na Faculdade de Letras de Lisboa. Assim se afere a qualidade de alguns professores universitários em Portugal. Não se esperava que Belo soubesse o que quer que fosse de terapêutica médica, de Farmacologia, de ensaios terapêuticos e larachas do género. O que se esperava era que calasse a boca sobre coisas de que não sabe nada. E também que não se comportasse como os peregrinos da Santa da Ladeira. Óh égua!
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