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Escolho
algumas frases quase ao acaso. Frases de uma espécie de “discurso único” sobre
a Grécia em que esta é sempre apresentada como vítima. Vive-se “uma grave crise
humana”, escreve-se na carta que 32 personalidades enviaram ao
primeiro-ministro. E, claro, não há razão para qualquer “discurso punitivo”, a
Grécia não tem culpa de nada. A chanceler Merkel, como sentenciou Mário
Soares, é que é a “responsável principal pela
desgraça da Grécia “. Tudo por causa de “uma política destruidora”,
explicou de seguida o professor Louçã, como agora é apresentado. E, também, por
causa do “delírio especulativo” que criou “uma pilha de dívida”, algo que
se aplica certamente a um país onde 80% da dívida é hoje detida pelos seus
parceiros europeus, país que também paga as menores taxas de juro e até
beneficia de um período de carência. Claro que tudo isto coincide e reforça o que Alexis Tsipras diz sempre que tem um microfone
pela frente: “devastaram o Estado” e “criaram uma enorme crise humanitária”.
Quem o ouve diria que fala do Darfour.
[...]
Assim começa um artigo de
José Manuel Fernandes, no "Observador", que pode ler aqui. Não sei se
Fernandes é totalmente correcto em tudo que escreve, mas estou convicto que
acerta muitas vezes na mouche. Em minha opinião, a Grécia e os gregos são casos
ímpares na Europa—mais singulares ainda que Portugal e os portugueses, coisa
difícil.
Tiro o chapéu a José
Manuel Fernandes pela habitual coragem de chamar os bois pelos nomes e não se
deixar intimidar, nem embrulhar no sufocante
e castrador domínio do politicamente
correcto imposto por bem pensantes, profetas de fés políticas que são só isso:
fés; às vezes fezes.
Leia o leitor, concorde
com o que achar bem—se achar—e reflicta sobre o que lhe parece mal. Mas, pelas
alminhas, não seja caixa de ressonância de gente como Louçã, Mário
Soares, João Cravinho, Freitas do Amaral, Bagão Félix e Companhia Limitada—infelizmente
menos limitada do que era desejável.
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