Não sei se a realidade é mais interessante do que a
ficção. Sei que, em Portugal, é mais engraçada. Muito antes do dia 1 de Abril,
o Público deu a conhecer a carta do partido Livre/ Tempo de Avançar/Corrente
Manifesto/ Renovação Comunista aos gregos. Em teoria, a carta apoia as
"posições antiausteridade" do governo de Atenas. Na prática, realiza
os sonhos de qualquer guionista de comédia.
O aglomerado de partidos, movimentos e correntes, talvez
representativo de 1,3% do (nosso) eleitorado, confessa-se envergonhado e
revoltado pelas "notícias de que Portugal tem sido um obstáculo" e
jura que "a Grécia nunca mais estará sozinha numa reunião do
Eurogrupo". Por enquanto, promete fazer "pressão, dentro e fora de
Portugal, para que o governo de Portugal mude de posição - ou para que Portugal
mude de governo". A "pressão dentro" é divertida. A
"pressão fora" é de ir às lágrimas: o aglomerado pretende, se calhar
em prol da soberania nacional, convidar à invasão de forças estrangeiras? A
terminar, todo um programa de esperança e galhofa: "Caros concidadãos
gregos: aguentem firmes, que vêm reforços a caminho."
Não estou a inventar. Aliás, isto não sairia tão bem se
fosse inventado, ou encomendado a uma criança de 8 anos. Às vezes, queixamo-nos
de que por cá não se faz humor - para quê, se o humor já nasce feito?
Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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