Estar aberto a toda a opinião, mesmo à que não bate certo
com os nossos vieses intelectuais e afectivos a que chamamos valores,
convicções, fés, ou crenças, é prova de inteligência. Por exemplo, o livre
arbítrio é um putativo traço da nossa mente, significando que somos capazes de
optar pelo comportamento patati ou pelo comportamento patatá, em função de
valores, convicções, fés ou crenças a que aderimos livremente.
Aderimos livremente? Somos todos feitos de quarks
e leptões iguais que obedecem às mesmas leis da Física, estejam na rocha da
montanha, na água do oceano, no rabo da lagartixa, ou no encéfalo do senhor Blatter.
Porque pode o senhor Blatter controlar o fruto do trabalho dos quarks e leptões
do seu encéfalo e um calhau não pode fazer o mesmo? Ou pode? Suspeito que não.
E o senhor Blatter também não pode.
Indo por aí, o futuro é tão fixo como o passado; isto é,
não conseguimos condicionar o futuro, da mesma forma que não conseguimos
alterar o passado. O presente não existe—é apenas uma linha imaginária que
separa artificialmente passado e futuro.
Chegados aqui, concluímos que livre arbítrio é expressão
sem significado—uma ilusão embutida no nosso sistema legal e moral, uma
fantasia sem nenhum significado lógico.
Tem dúvidas? Eu tenho. Muita gente tem também. Distinguir
o que é viés e razão neste caso é muito complicado. Os detractores do livre
arbítrio dizem que o ónus da prova é de quem os contesta e que a eficácia dos
enviesados não se tem revelado brilhante. Para gáudio dos filósofos,
acrescento.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário