De todas excentricidades da humanidade, a religião pode muito
bem ser a mais frustrante. Apesar de ninguém ter produzido um grão de evidência
sobre a existência de deuses, as pessoas envolvem-se em comportamentos
repetitivos, muitas vezes penosos, sob a impressão de que um ser etéreo,
algures, sabe e se preocupa. E, apesar de acreditar ou não, muita gente inteligente
consumiu considerável número de calorias tentando desvendar o mistério que é a
mente de Deus e as implicações que tem em literalmente tudo.
Assim
começa um ensaio do antroplogista Benjamin Grant Purzycki, do Centre
for Human Evolution, Cognition and Culture da University of British Columbia,
em Vancouver, com o título Inside the
mind of God.
E, mais adiante: Mesmo gente inteligente diz que Deus sabe
tudo, mas são mais lestos a confirmar a sabedoria de Deus sobre informação
moral (Deus Sabe que o António trata mal
os velhos?) que informação não-moral (Deus sabe que o David tem luvas pretas?). Mesmo quando
respondem sim às duas perguntas, respondem mais rapidamente à primeira — é mais
fácil "processar" o saber de Deus no domínio moral.
Para melhor
interpretar esta disparidade, foi usado um sistema tipo Big-Brother, chamado
NewLand, e feitas as mesmas perguntas. Mesmo respondendo todos os voluntários que
o NewLand sabia tudo, respondiam mais depressa que sim se a pergunta dizia
respeito a matéria moral que não moral.
Em 2011, o psicólogo Jared
Piazza, da Lancaster University, disse a algumas crianças que tinha no
laboratório um fantasma capaz de saber
tudo. Embora elas não soubessem muito bem o que era um fantasma, fizeram menos
batota nuns jogos que ele lhes emprestou que outro grupo a quem a xaropada do
fantasma não tinha sido contada.
É claro que nem todos os deuses são tão
moralistas como o Deus de Abraão. Nem todos os deuses se preocupam com a forma
como nos tratamos uns aos outros; nem todos os deuses sabem tudo; nem todos
castigam por violarmos as regras; nem se preocupam com que acreditemos neles;
nem todos são vistos parecidos com o homem.
Quando as ameaças ecológicas ou
sociais mudam, as religiões geralmente também mudam. Os antropologistas consideram há muito tempo
que a religião é um reflexo da sociedade. Mas observações mais recentes mostram
que a sociedade também é reflexo da religião. Em boa verdade, os dois reflexos são demasiado
simplistas. Está em jogo um trio: a religião, a sociedade e a nossa mente.
Nas regiões prósperas, com serviços
sociais seculares eficientes e justiça a funcionar, a religião
"encolhe". A relação inversa também ocorre: sem serviço social secular
eficienete e com justiça fraca, a religião cresce. No primeiro caso, a obsessão com o que Deus
sabe de nós e quanto se preocupa connosco torna-se irrelevante.
Não posso reproduzir o ensaio todo
porque, além de já estar com sono, posso ser preso por plágio ou coisa parecida
relacionada com essa cangalhada dos direitos de autor. Mas sugiro a quem
estiver interessado que leia o original — naturalmente muito melhor que esta resumo — clicando na figura que encabeça o post. É controverso o artigo? Oh se é?!!!... Mas está muito bem feito.
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