sábado, 8 de abril de 2017

ENFIAR A CARAPUÇA

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De vez em quando, do alto da montanha de livros e merchandising partidário que acolhe na Marmeleira (?), Pacheco Pereira olha para baixo e deprime-se. Voltou a acontecer esta semana, na qual, em crónica no Público, o popular intelectual lamenta o desprezo que, cito, “a escola, a universidade, a sociedade, a comunicação – já para não falar das chamadas ‘redes sociais’ – e a política hoje dão às humanidades e aos estudos clássicos”. Desencantado, Pacheco Pereira atribui parte da culpa desta desgraceira ao governo PSD-CDS (cá dentro) e ao sr. Trump (lá fora). Amargurado, Pacheco Pereira constata que os jovens e os adultos de agora não fazem uma ideia sobre “Polifemo ou Salomão, ou Judite ou o Bom Samaritano”, não suspeitam coisa nenhuma acerca da “Odisseia, ou da Antologia Grega”, não sabem “quem era Argos ou Tifão”, nem conhecem “Esparta e Atenas”, e “Sófocles e Tucídides”.
Como careço dos pergaminhos de Pacheco Pereira, não duvidarei dos ilustrados e remotos tempos em que jovens e adultos recitavam a Antologia Grega nas feiras e nos mercados. O importante é ficar implícito que Pacheco Pereira domina todos os temas acima, erudição que decerto exercita nas conversas em “off” com o amigo Jorge Coelho – um evidente especialista em Calímaco e São Gregório de Nazianzo. Por outro lado, fica explícito que tamanha sapiência não lhe serve de muito, já que mesmo assim continua um encarniçado defensor da sofisticada gente que manda no país. [...]
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E agora falo eu. Tudo quanto é "politicamente correcto", ou "socialista de merda", expressão consagrada pelo uso e por isso aceitável,  abomina, para não dizer albumina, Alberto Gonçalves, um campeão do escárnio. E porquê? Porque Alberto Gonçalves é um homem inteligente, escreve como poucos e... bate no sítio onde dói. A porra — com vossa licença — está aí! 
Há dias, esse intelectual inspirado chamado Ricardo Salgado citava Pessoa quando dizia que pedir desculpa é pior que não ter razão — foi uma boa saída, independentemente dos "malabarismos financeiros" que lhe são imputados, diga-se em aparte. Lembrei-me dele porque, pior que ser como os militantes da "esquerda unida" retratados por Alberto Gonçalves, é acusar o toque  dos seus sarcasmos, investindo contra ele — manifestamente a "enfiar a carapuça". E,  pior ainda: como algumas bestas da festa brava, difíceis de lidar, marram baixo.
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