Um ciclone pode arrasar uma cidade, mas
não consegue abrir uma carta.
Paul Valéry
Há quem não goste do referido,
embora se esteja mesmo a ver que reagir não
adianta nada — lutar contra é coisa
para D. Quixote. Os campeões da insurgência contra a corrente actual são sobretudo
mulheres intelectuais, consequentemente campeãs. E que dizem elas? Muitas
coisas e bem ditas.
A carta liga duas pessoas de forma
privada, mesmo quando o conteúdo é conhecido de toda a gente. É estúpido isto,
mas é verdade. A carta é escrita quase sempre à mão — como deve ser —, metida num envelope fechado por
quem a escreve — como deve ser — transportada assim fechada e aberta só pelo
destinatário — como deve ser — e guardada por este em local da sua privacidade.
Mas não é isto o mais importante. A carta é um objecto
que saiu das mãos de quem a enviou que vem ao contacto das mãos de quem a
recebe — além de conteúdo mental, ou espiritual, tem corpo ou conteúdo físico. E foi escrita
com toda a mão e não com a ponta dos dedos a martelar no mesmo teclado com que
se navega para o jornal Avante, ou para
o Diário da República.
Por outro lado, correspondência significa quase sempre
resposta, e resposta pensada, reflectida, ponderada e adiada se for necessário. Email ou SMS é
para responder na hora ou, pior ainda, no minuto, o que em boa parte dos casos "dá
bota" por falta de reflexão.
Podia alinhar mais argumentos a favor do snail-mail. É verdade. Mas há
quem o saiba fazer melhor — por exemplo, Siobhan Phillips, num artigo que pode
ler aqui. E deve ler..
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